Há cada vez mais jovens com falta de confiança, com uma auto-imagem distorcida. Crianças “extremamente dependentes”, com pais “extremamente possessivos”, o que não lhes permite ter autonomia.
Alunos que se desvalorizam diariamente, afirma Cristina Marques, psicóloga na Escola Secundária Domingos Sequeira. “É importante fazer com que essas crianças percebam quais os seus pontos fortes e, a partir daí, aumentá-los.”
Esta é uma das áreas em que o coaching actua. Aplica-se “fundamentalmente em áreas onde a competição é grande”, adianta a psicóloga, como aconteceu com o conhecido caso de Éder, no Campeonato Europeu de Futebol em 2016.
No entanto, para Cristina Marques, alguns “princípios estratégicos” desta ferramenta em âmbito escolar apenas fazem sentido se “acoplados de outros planos estratégicos”. A psicóloga admite que existem benefícios em usar o coaching no meio escolar, no entanto, “nunca no sentido de vencer”, mas sim no sentido de “construir, preservar e moderar conflitos”.
Maria do Céu Mendes, professora de educação especial naquela escola e formada em coaching, explica que esta é uma ferramenta que pode construir um plano de acção aos alunos. “Serve para o aluno descobrir os seus recursos e potenciais.”
Além destas problemáticas, também as dificuldades de aprendizagem, de concentração ou de relacionamento têm levado os pais a inscreverem os seus filhos no programa de coaching do centro de explicações Matriz Minds, em Leiria, afirma Eva Rosa, reponsável pela gestão do espaço.
“O coach vai ser um orientador do crescimento pessoal, que ajudará na concretização dos resultados escolares ou académicos.” Este método é uma ferramenta complementar às explicações e ao apoio ao estudo que o Matriz Minds oferece.
O coaching tem “um potencial enorme para apoiar na gestão de emoções, de relações e de conflitos”, salienta Paula Jorge, coach no Aquarela Life Design, na Marinha Grande. Menos ansiosos, os jovens ficam “mais disponíveis” para encontrar soluções “que lhes garantam maior sucesso académico”.
[LER_MAIS] Numa sessão de coaching, explica Paula Jorge, podem ser sinalizados acontecimentos do dia-a-dia que sejam “limitantes”. Com recurso a técnicas que envolvem “identificação de emoções, pensamentos e atitudes” é possível “desbloquear estas percepções”, o que irá melhorar o sucesso escolar.
Chegar aos filhos através dos pais
Foi no ano lectivo passado que Elsa Diogo e o marido decidiram iniciar sessões de coaching para ajudar o filho. Diogo, na altura com oito anos, tinha o “pior comportamento” da turma, num constante desafio aos professores e aos colegas. No entanto, eram atitudes que não se reflectiam em casa.
Já sem saber “como actuar”, decidiram procurar ajuda. Tiveram conhecimento do Juntos a Crescer, um programa de coaching cujo objectivo é trabalhar com os pais de modo a ajudar os filhos.
Os mentores deste programa são Nelson Cardoso, professor do 1.º ciclo no Agrupamento de Escolas D. Dinis, em Leiria, e Elsa Rodrigues, formada em coaching. O processo começa por um diagnóstico feito com os pais e, se necessário, também com a criança, para perceber a dinâmica da família, de modo a chegar à origem do problema.
De seguida, avança Nelson Cardoso, é estruturado um caminho que leva os pais a reflectir e a encontrar as próprias soluções. “Fazemos perguntas, colocando os pais perante vários episódios, num jogo de 'faz de conta', para que percebam que há alternativas.” Por fim, os mentores escolhem estratégias a implementar ficando uma sessão final para a avaliação.
Além de ajudar a melhorar o comportamento do filho, Elsa Diogo realça que, após as sessões de coaching, também o dia-a-dia familiar melhorou. “Tínhamos uma vida muito agitada. Agora, isso mudou. Temos momentos só para a família, sem tablets nem telemóveis.”
Além disso, os pais criaram também tempo para dedicar a cada filho individualmente. E também a forma como comunicam com os filhos mudou. “Conseguimos perceber que há linguagem que não ajuda, que eles não entendem as coisas da mesma forma que nós.”
Hoje, os professores apresentam Diogo como “um exemplo de bom comportamento”, pois passou de mau comportado para um dos melhores.