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O alarme está a soar desde o final do ano passado, mas só na terça-feira é que o Governo tomou as primeiras grandes acções.
O território nacional está seco e, a continuar sem chuva, adivinha-se um 2022 complicado.
O ministro do Ambiente ordenou que quatro barragens, todas da EDP, suspendessem a produção de electricidade.
Duas delas, Cabril e Castelo de Bode, são na região, as restantes são o Alto Lindoso e Touvedo. Após anunciar a medida, Matos Fernandes garantiu que “há reservas de água para consumo humano para dois anos”.
O problema é bem visível na albufeira do Cabril, em Pedrógão Grande, que com os seus 136 metros de altura contém, hoje, dia 3 de Fevereiro, apenas 34,9% da sua capacidade.
Criada em 1954, é um dos maiores reservatórios de água do País. “A população já deveria ter sido alertada para reduzir o consumo de água. A EPAL e as [LER_MAIS]autoridades deveriam tentar minimizar o impacto da eventual ausência de chuva nos próximos tempos. Parece que esperam que sejam os céus a resolver.”
A afirmação é de Paulo Constantino, dirigente da associação ambientalista Protejo, que após consultar o Boletim de Armazenamento nas Albufeiras, adianta que, a jusante, Castelo de Bode já está a 65% da capacidade (no dia da publicação, dois dias depois da afirmação de Paulo Constantino, o mesmo boletim indicava já 59,2%).
Recentemente, a climatologista Vanda Cabrinha considerou que a situação é preocupante, embora ainda não aos piores níveis dos últimos 20 anos para esta altura.
“Se entre o final de Janeiro e Fevereiro não houver precipitação, a situação poderá agravar-se imenso”, avisou. São da aldeia de Arega, “lá de cima.” António e José Maria desceram à Foz do Alge, no concelho de Figueiró dos Vinhos, para dois dedos de conversa e o mata-bicho, no café local.
“Tenho ali um barco e tenho de vir ver como ele está”, diz José Maria, 72 anos, que, já foi madeireiro, mas está reformado, apontando para a zona de lama seca onde agora repousa o cais flutuante do Clube Náutico de Figueiró dos Vinhos.
Várias embarcações seguem-lhe o exemplo, tombadas de lado no solo, a olhar a água que desceu, praticamente, para o antigo leito do rio Zêzere, antes de, em 1951, a barragem de Castelo de Bode ter afogado as margens.
António, 71 anos, diz que só viu o rio tão baixo há muitos anos. “Vem para aí pessoal ao fim-de-semana ver isto, que é uma coisa doida.”
Há quem aponte o dedo à EDP por estar a descarregar mais água para produzir energia hídrica para compensar o fecho da produção termoeléctrica, porém, fonte da empresa diz que esta mantém a produção com recurso a gás e que a razão é mesmo a falta de chuva.
“A EDP mantém uma gestão eficiente dos recursos hídricos de forma a garantir que nem a produção de energia, nem os usos prioritários da água, sejam colocados em risco”, adianta a mesma fonte.
Paulo Constantino confirma a informação. “Os dados públicos mostram que foi produzida mais electricidade até Outubro, mas, depois, até ao momento, foi reduzida.”
A empresa ressalva que “as albufeiras têm estado acima dos níveis mínimos de exploração definidos nos contratos de concessão.” Certo é que, num cenário de alteração climática, faltam medidas simples para minimizar esta situação.
“Soluções como corredores ecológicos, na zona das albufeiras, com floresta autóctone e vegetação ripícola, que funcionam como filtro e como esponja para manter a água no solo”, ilustra Paulo Constantino, adiantando que a aposta no eucalipto no “Pinhal Interior” torna péssima uma situação má.
“É uma espécie que não retém água e consome muita água, e não permite que cresça vegetação no solo”, resume.