Luzes, câmaras e acção no Castelo de Alcobaça, transformado em cenário de cinema para a conquista de Ceuta pelo exército português. A fechar a primeira semana de gravações do filme A Vida de Nuno Álvares Pereira, o actor Gonçalo Waddington (no papel do Santo Condestável) carrega a espada contra o inimigo, uma e outra vez, antes de se escutar o derradeiro “corte”, pela voz do assistente de realização.
A Vida de Nuno Álvares Pereira, filme sobre o herói da batalha de Aljubarrota, é uma média metragem dirigida por Johan Schelfhout. As gravações começaram na segunda-feira, 9 de Outubro, em Alcobaça, e prolongaram-se até sexta-feira, dia 13, com o contributo de 85 pessoas, além de 150 figurantes.
Nos primeiros quatro dias, no Mosteiro de Alcobaça, o realizador belga recriou a corte de D. João I e o ambiente de Lisboa medieval, incluindo um mercado de rua, e reconstituiu momentos do quotidiano no Convento do Carmo em Lisboa, que Nuno Álvares Pereira mandou construir e para onde se retirou em 1423. “O Mosteiro e as suas características arquitectónicas”, segundo Rita Simão, justificam a escolha de Alcobaça para a rodagem do projecto. “É um dos poucos edifícios ainda fiel”, explica a produtora executiva. “Embora não seja arquitectura medieval”, permite “filmar lá dentro e no exterior” e colocar o público “em contacto com a época”.
Já na quinta e sexta-feira, no Castelo de Alcobaça, foram gravadas cenas que evocam o Castelo de Palmela (o episódio de comunicação por almenaras, em 1384, com o Castelo de São Jorge, em Lisboa) e a batalha de Ceuta (em 1415, o início da expansão ultramarina portuguesa).
Ao longo da primeira semana de gravações de A Vida de Nuno Álvares Pereira, 150 figurantes reunidos através de anúncios nas redes sociais e na imprensa, quase todos da região de Alcobaça, participaram, por exemplo, na recriação de Lisboa medieval, das Cortes de Coimbra que em 1385 elegeram o Mestre de Avis como Rei de Portugal e do casamento de D. Beatriz (filha do Condestável) com o príncipe D. Afonso, filho de D. João I. “Em todas as cenas há figuração”, realça a produtora executiva. “É uma produção com alguma dimensão, sobretudo por ser uma produção de época”, o que, segundo Rita Simão, implica meios mais “pesados”, como figurinos, mobiliário e outros elementos de caracterização.
Com, aproximadamente, 30 minutos, o filme sobre Nuno Álvares Pereira é uma encomenda da Fundação Batalha de Aljubarrota à produtora Maverick com o objectivo de renovar os conteúdos apresentados no Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota (CIBA), localizado no campo de São Jorge, em Calvaria de Cima, Porto de Mós, onde os visitantes encontram um cenário montado à escala e a projecção panorâmica de um espectáculo multimédia.
“É a biografia do Nuno Álvares Pereira, desde jovem” e abrange “todas as batalhas” em que se destacou, comenta Johan Schelfhout. “Também fazemos uma exploração do carácter dele”, ou seja, “um retrato mais intimista”, assinala o realizador. “Era mais do que um herói militar” e “no fim da sua vida, mas não só”, manteve “uma devoção mariana”, e revelou-se “um homem muito religioso”.
“Uma pessoa honesta”, que desde cedo “tem o amor do povo” e é retratado por Fernão Lopes como “exemplo” e “modelo”, conclui Johan Schelfhout. O realizador coloca em evidência “os três rostos do Condestável”: militar, político e religioso.
O filme A Vida de Nuno Álvares Pereira é destinado a exibição exclusiva no CIBA, onde já é possível assistir à projecção do outro filme épico em que Johan Schelfhout colaborou, A Batalha Real, sobre a Batalha de Aljubarrota, datado de 2008, também com a participação de Gonçalo Waddington no papel de Nuno Álvares Pereira e de Nuno Nunes enquanto D. João I.
As gravações de A Vida de Nuno Álvares Pereira, 10 dias, no total, prosseguiram em Alter do Chão.
Filho ilegítimo do Prior do Crato, Nuno Álvares Pereira tornou-se cavaleiro, senhor feudal e comandante do exército. Génio militar responsável pela vitória portuguesa em Aljubarrota seria beatificado pela Igreja Católica em 1918 e canonizado, como São Nuno de Santa Maria, em 2009.
A Fundação Batalha de Aljubarrota assegura “a qualidade e rigor histórico” de A Vida de Nuno Álvares Pereira e considera que o filme vai aumentar “o conhecimento” acerca de um “período histórico” no século XIV “fundamental para a independência de Portugal e recheado de factos notáveis de superação e sacrifício”. A estreia está prevista para Janeiro de 2024.