Tornar a freguesia num território “mais resiliente ao fogo” é o grande objectivo do projecto de transformação da floresta que está em curso em Alqueidão da Serra, no concelho de Porto de Mós. Iniciado há cerca de três anos, o processo acaba de dar um passo importante com a aprovação da Operação Integrada de Gestão da Paisagem (OIGP), que garante um financiamento na ordem dos 6,4 milhões de euros a executar ao longo de 20 anos, montante que contempla apoios aos proprietários para investimento e pagamento pelo “serviço de ecossistema” que prestam.
Miguel Santos, técnico responsável pela Área de Gestão Integrada da Paisagem de Alqueidão da Serra, explica que o financiamento será executado em duas fases. Uma primeira, para as intervenções iniciais, que incluem limpezas, plantações e reactivação de povoamentos florestais ao abandono, a executar nos próximos dois anos e que totaliza 2,6 milhões de euros.
Depois disso, entra-se na fase de manutenção, para a qual está assegurada uma “remuneração anual máxima de 185.758,40 euros para apoios a 20 anos”, revela o despacho governamental de 22 de Março, que aprova as primeiras 12 OIGP do País.
“Parte dessa verba será para os proprietários que queiram cuidar dos seus terrenos. A outra, será para a entidade gestora [Junta de Freguesia] a quem os privados podem delegar essa tarefa, sendo que a titularidade da propriedade é sempre da pessoa”, esclarece Filipe Batista, presidente da Junta.
Entre as acções a executar na primeira fase, está a “reactivação e recuperação” de perto de 80 hectares de olival abandonado, processo que, segundo Miguel Santos, conduzirá à criação de uma marca própria de azeite.
O projecto contempla também a plantação de 16 hectares de medronheiro, numa zona de pinhal “degradada”, e a gestão de cerca de 200 hectares de carvalhal, com desbaste e limpeza de matos. Haverá ainda intervenções em áreas de pinhal, grande parte afectada pelo enorme incêndio que atingiu a freguesia em 1995 e que, “por falta de gestão, se transformou num barril de pólvora”.
“É preciso reduzir a carga combustível, mas teremos um enorme cuidado nas limpezas de matos, porque há espécies arbustivas que têm de ser protegidas”, frisa Miguel Santos, adiantando que se prevê ainda a reconversão de alguns eucaliptais, com a plantação de pinheiro-bravo. Serão ainda criados pontos de água para a fauna, implementadas culturas para o pastoreio e constituída uma equipa de sapadores florestais.
Em cima da mesa está ainda a possibilidade de colocar no terreno rebanhos de cabras sapadoras e o recurso a fogo controlado para as acções de manutenção. Abrangendo uma área de 2.210 hectares, a OIGP de Alqueidão da Serra conta já com a adesão de 225 proprietários, com os quais a identidade gestora irá, nas próximas semanas, formalizar os contratos.
“Temos já garantidos mais de 1.100 hectares, onde de incluem os baldios geridos pela Junta, que totalizam perto de 600 hectares”, avança Miguel Santos, revelando que a restante área será objecto de editais, a convocar os proprietários para a adesão ao projecto.
“Caso não o façam, a entidade gestora pode intervir nos terrenos e executar as acções necessárias”, explica o técnico, que acredita que, quando perceberam as vantagens do projecto, nomeadamente as contrapartidas financeiras, haverá mais pessoas a aderir. “O proprietário de um carvalhal pode ser pago por manter esse povoamento, que não lhe dá rendimento, mas que cria benefício para a sociedade”, exemplifica.