Em 2023, é esperado um aumento de 30% no aluguer de autocaravanas em Portugal, adianta a Euromaster em comunicado, reportando-se a dados da plataforma Yescapa, que se dedica ao aluguer destes veículos. Na região de Leiria, alguns empresários do sector também verificam que o negócio do aluguer tem vindo a prosperar.
A venda de autocaravanas usadas também segue a bom ritmo. Já a comercialização de veículos novos é fraca e a falta de disponibilidade financeira da generalidade dos portugueses é um dos motivos que inibe a procura.
Miguel Eugénio é proprietário da InsideOutCampers, agência de Leiria que se dedica ao aluguer de autocaravanas. Avançou com o negócio em 2020, em plena pandemia, e diz que, desde então, não parou de crescer. Este Verão, face ao anterior, terá subido mais 12%. Tem uma frota ainda pequena, de cinco veículos, “e mais tivesse e mais teria alugado”, frisa o gerente, observando que passar férias numa autocaravana se tornou moda.
Em época alta, dependendo do veículo, o aluguer pode custar entre 150 e 180 euros por dia. Já em época baixa, pode ficar por 100 a 130 euros, contextualiza.
Pedro Fernandes, responsável pela Karavan, de Leiria, que se dedica ao comércio de autocaravanas usadas, explica que, no seu caso, o negócio surgiu como um hobby, que resultou do seu próprio gosto em praticar autocaravanismo.
Desde 2006, ano em que se estreou a viajar de autocaravana, começou também a adquirir mais veículos, inicialmente para si mesmo, depois para clientes. Nos últimos anos, tem importado autocaravanas de forma mais sistemática, de França, e sente que a procura tem crescido. O mercado nacional destes veículos usados teve um boom, sobretudo durante a pandemia, quando as pessoas perceberam que é uma forma segura de fazer férias, com a possibilidade de ter a sua própria “casa” nas mais diferentes localizações, salienta.
Desde então, manteve- se a procura, embora este ano os clientes prefiram veículos de preços mais acessíveis. Ainda assim, explica Pedro Fernandes, os seus clientes são geralmente pessoas de meia-idade ou mais, com gosto pela aventura, de classe média-alta, com capacidade para fechar negócio a pronto pagamento.
“É mais do que uma moda. Veio para ficar”, acredita o responsável pela Karavan, que lamenta que o País não tire maior proveito deste tipo de turismo, como já acontece noutros mercados europeus, como Espanha, França ou Itália.
“Lá fora, há mais áreas disponíveis para autocaravanas, que são pagas, mas apresentam todas as infra-estruturas necessárias, muitas delas até situadas nos centros das cidades”, sublinha. “Muitos destes turistas são idosos, que nem sempre têm condições para se deslocar quilómetros a pé, e essa localização permite que conheçam os centros e ali consumam, gastem dinheiro”, observa Pedro Fernandes, também crítico com a “má fiscalização” que é feita no País a estes veículos.
Veículos novos com pouca procura
Filipe Sobreira é gerente da Tederent, empresa da Guia, em Pombal, que se dedica à venda de autocaravanas novas, também usadas, bem como ao aluguer. Com negócio desde 2009, Filipe Sobreira verifica que a actividade se alterou com a pandemia. Em tempos de confinamento, verificou algum acréscimo no aluguer destes veículos, mas acabou por ser um aumento “residual e passageiro”. Porque alguns dos novos clientes, que não eram habitualmente autocaravanistas, acabaram por não repetir a experiência.
O gerente explica que uma autocaranava nova não custa menos de 70 mil euros. E o aluguer, com os carros premium da Tederent custará pelo menos 150 euros por dia, em época baixa. A generalidade dos portugueses não tem condições financeiras para tal. Acresce que há impostos associados que são elevados e há regulamentação que restringe as zonas onde estes veículos podem ficar.
São alguns constrangimentos que podem ser dissuasores, acredita o gerente. O resultado está à vista. Em todo o ano 2023, em todo o território nacional, só foram vendidas 59 autocaravanas novas, expõe Filipe Sobreira. O empresário reconhece que existirá algum mercado que se mantém activo, mas grande parte dele assente em viaturas usadas, importadas, mais baratas, mas que também têm mais anos de estrada e que por isso também oferecem mais problemas.