A sala de Educação Visual da EB 2,3 Dr. Correia Alexandre, na Caranguejeira, Leiria, foi, por um dia, transformada numa ‘fábrica’ de confecção de vestidos. Ao centro, as mesas habitualmente usadas para desenhar, servem de bancada de trabalho, em cima da qual há tecidos, agulhas, elásticos, alfinetes e tesouras. Em volta, uns alunos cortam linhas, outros enfiam elásticos ou alinham as peças que depois hão-de costurar.
Na parede, foi também já esticado um cordão onde mais tarde será exposto o resultado final deste dia de trabalho: 21 vestidos feitos pelos alunos que serão enviados para África ou para um outro ponto do mundo onde haja crianças carenciadas.
Os alunos associaram-se, desta forma, ao ‘batalhão’ de voluntários mobilizados pela Dress a Girl Around the World, uma Organização Não Governamental (ONG) fundada em 2009 nos EUA e que desenvolve actividade em Portugal desde 2016, com a missão de fazer vestidos e calções para doar a meninas e rapazes de países em vias de desenvolvimento.
O objectivo é levar “dignidade, protecção e esperança” a essas crianças, explica Amélia Novo, uma das voluntárias que dinamizou a acção realizada, no dia 20, na escola da Caranguejeira, frisando que esta é também uma forma de despertar os participantes para o “saber olhar para o outro de forma muito diferente”, contribuindo com “o seu tempo e trabalho para provocar felicidade”.
Enquanto vai colocando o elástico numa costura que ele próprio executou e que fará o formato da gola do vestido, Samih Sugou, que “nunca” tinha enfiado uma agulha, confessa-se “feliz” por ajudar esta causa. “As meninas vão ficar contentes com os vestidos”, diz, exibindo, com orgulho, aquele que fez com a ajuda das voluntárias. “Está com alto style. Só falta pôr o bolso”, conta. O bolso de que Samih fala levará também umas cuecas.
“Há crianças que nunca vestiram uma peça de roupa nova. Nem sequer umas cuequinhas. Isso também é dignidade, esperança de que é possível ser mais igual aos outros”, salienta Amélia Novo.
Maria Freitas é dos poucos elementos da turma, talvez a única, que já teve experiência com agulhas – “tricotei com a minha avó” – , mas a colaboração com o projecto Dress a Girl será “inesquecível”. “Estamos a ser úteis e ajudar os outros. Nós temos muita roupa, mas aquelas meninas não sabem o que é ter uma peça nova. Agora vão saber”, diz.
Realçando o “empenho e o entusiasmo” que os alunos dedicaram ao projecto, Ana Matos, directora de turma, entende que a cidadania “também se constrói desta forma”. “A formação faz-se também da sensibilização para olharmos para os outros e para a importância de contribuirmos para melhorar um pouco a sua vida”, defende.