Dezassete alunos do 10.º CT-MA da Escola Básica e Secundária de Mira de Aire, do Agrupamento de Escolas de Porto de Mós, foram seleccionados para um projecto europeu inovador sobre a utilização de realidade virtual em sala de aula. O projecto, que a nível europeu envolve mais uma turma italiana, permitiu aos estudantes de Mira de Aire testar soluções inovadoras no âmbito da educação digital, desenvolvidas por uma startup estrangeira.
Durante várias sessões, as aulas de físico-química e inglês foram complementadas com experiências em laboratório… virtual. No dia em que o JORNAL DE LEIRIA acompanhou a última lição do projecto, os jovens tiveram de aplicar os conhecimentos sobre o tema ‘hidrogénio e oxigénio’.
“Já tiveram aulas sobre acertos de equações, ácidos, bases e sais e ligações químicas. Hoje estamos na última aula, de hidrogénio e oxigénio, que o professor de físico-química chama ‘combustível e comburente’”, explica Filomena Miguel, professora de inglês e coordenadora do projecto.
Óculos e uma nova dimensão
Com os óculos Meta Quest 2 na cara e um comando em cada mão, os alunos entram directamente num laboratório, onde conseguem tocar em botões, puxar alavancas, agarrar em coisas, acender velas… Podem fazer experiências como se estivessem fisicamente presentes. “Caiu-me o ouro e agora, o que faço?”, “É suposto acender a vela?”, “Já não sei onde está o ferro, deixei cair tudo” foram alguns dos comentários que os alunos foram fazendo enquanto ‘trabalhavam’ no laboratório virtual.
Os problemas também foram surgindo e rapidamente ultrapassados com a ajuda dos docentes. “Ó stôra, isto não está focado”. “Foi-se o wifi”. O hotspot do programa Escola Digital de Filomena Miguel resolveu.
“Esta experiência de realidade virtual permite ao utilizador entrar num universo simulado e conseguir interagir com a informação que está no programa. As coisas tornam-se tangíveis. Conseguem mexer em moléculas, átomos e outros componentes químicos, que em condições normais não conseguiriam”, salienta Filomena Miguel.
A plataforma Futuclass apresenta conteúdos didácticos, com perguntas em inglês, que além de experiências obriga os estudantes a responder acertadamente. A docente, destaca ainda a importância do projecto ser em inglês, permitindo aos alunos desenvolver também esta língua nas aulas. “Na área de química, que é mais abstracta em termos de manipulação de conceitos, permite-nos fazer coisas que não é possível fazer no laboratório. Os modelos que temos são muito rudimentares e ali estão a manipular gases e experiências, sem correr qualquer tipo de risco. Visualizam, por exemplo, o que acontece do ponto de vista mais elementar da distribuição electrónica, como é que os átomos são constituídos e o que permite, a partir daquela junção de átomos, formar moléculas e como interagem umas com as outras”, afirma Luís Lavado.
Para Filomena Miguel, uma das mais-valias do projecto é a motivação e a consolidação de conhecimentos, mas também o sistema de aulas gamificado. “As lições criadas por esta plataforma têm desafios progressivos e o objectivo é terminarem sempre a unidade.” Devido à condição de “Live testers” para a qual foram seleccionados, os alunos têm direito à totalidade dos conteúdos da plataforma até ao final do ano lectivo.
“Aprende-se de forma diferente e melhora o interesse pela disciplina. É fácil e intuitivo e fazem-se coisas que seriam impossíveis de fazer em vida real. Há coisas que precisam de ser melhoradas, mas é por isso que estamos aqui”, adianta o aluno José Baptista.
Tomás Torrão acrescenta que “em química acontece tudo a nível microscópico”. “Às vezes não conseguimos ter uma percepção mais certa, mas com esta plataforma podemos brincar e mexer com a química e ter uma melhor percepção sobre o que se passa e o que damos nas aulas. Motiva mais, é mais engraçado e envolvente.”
Já Rita Inácio entende que a plataforma é uma ajuda para “complementar as aulas de físico-química e permite compreender melhor os temas associados às aulas”. “Quando estou com os óculos parece que estou mesmo dentro de um laboratório dos cientistas.” Finalizada a experiência, os docentes enviaram um relatório à Comissão Europeia, onde relatam os aspectos positivos e negativos da plataforma utilizada. Um dos principais problemas para as escolas portuguesas é, sem dúvida, o preço dos óculos de realidade virtual de qualidade.