Há escolas onde o número de alunos que faz refeições nas cantinas aumentou nos últimos tempos, mas há uma nova realidade: à segunda-feira, há estudantes que pedem para repetir, mesmo que a ementa do dia não seja aquela que mais agrada aos jovens.
A informação, que foi denunciada ao JORNAL DE LEIRIA, é confirmada pela Câmara de Leiria, através do Gabinete de Apoio às Refeições Escolares, que “tem constatado, aquando das visitas de monitorização das refeições escolares, que alguns alunos requerem reforço de capitação da refeição à segunda-feira, nomeadamente os alunos dos 2.º e 3.º ciclos”.
[LER_MAIS]A procura não é maior, precisa a autarquia, mas há necessidade de ter maior quantidade de comida disponível. “Constata-se que há um número consideravelmente superior aos restantes dias da semana de alunos que pedem para repetir.
O alerta começou a ser dado pelas empresas e respectivas cozinheiras das escolas, que já confeccionam mais comida à segunda-feira, a contar com essa necessidade dos jovens”, reforça a Câmara de Leiria.
“Não existe quantificação passível de ser traduzida em número estanque, pois o reforço quantitativo é transversal a classes sociais e escalões de acção social escolar”, revela a mesma fonte.
As razões não estão totalmente sustentadas, mas a comunidade educativa e a autarquia acreditam que estão relacionadas com carência económica, mas também com alguma negligência dos pais.
Segundo várias fontes escolares ouvidas, há pais que “por preguiça” para fazerem refeições ao fim-de-semana mandam os filhos comer cereais ao jantar. “Às vezes, quando questionamos os miúdos pela razão de estarem a comer tanto, há quem diga que no dia anterior só comeu cereais”, constata o docente de uma escola de Leiria.
“Preguiça” deixa crianças mal alimentadas
“Há também crianças que não tomam o pequeno-almoço à segunda-feira, porque no dia anterior se deitaram muito tarde e no dia seguinte de manhã atrasam-se para a escola ou são deixados um pouco à sua sorte. São fragilidades sociais a que acresce a carência económica para comprar alimentos”, admite ainda a autarquia.
O número de refeições requisitadas oscila consoante os dias da semana, em função do horário escolar, designadamente nos 2.º e 3.º ciclos e ensino secundário, variando em cada agrupamento de escolas.
Os dados do Município de Leiria indicam que nestes anos lectivos são servidas uma média de cerca de 2500 refeições por dia e cerca de 4250 no ensino pré-escolar e 1.º ciclo.
Nos dias em que há aulas de manhã e de tarde ou a ementa apresenta pratos mais do agrado dos adolescentes a procura é maior, mas no Agrupamento de Escolas de Marrazes ou na Escola Secundária Afonso Lopes Vieira (ESALV) as refeições não sobem no regresso às aulas após o fim-de-semana.
“Temos casos identificados, cujo reforço alimentar é feito até de uma forma discreta. Temos consciência que há também casos cujos hábitos alimentares não são os mais ajustados nutricionalmente e há refeições que os miúdos não tomam por alguma negligência parental. Para alguns, a melhor refeição que têm é na escola”, salienta Jorge Edgar Brites, director da escola de Marrazes.
O Município de Leiria também verifica uma diminuição do número de refeições nos dias da semana em que os alunos não têm componente lectiva no período da tarde. “Contudo, em algumas escolas, no presente ano lectivo, o número de alunos que almoça nas escolas nos dias de tarde livre também regista um aumento.”
Multa habitual à segunda-feira
Na ESALV, o número de alunos que almoçou na cantina durante o segundo período escolar teve um aumento de quase três mil refeições face a igual período do ano lectivo passado, constata Silvina Reis, responsável por esta área na ESALV.
Sem confirmar que há necessidade de um reforço às segunda-feiras, a docente alerta, contudo, para o esquecimento de agendar as refeições. “Notámos que à segunda-feira há um número mais elevado de refeições com a taxa adicional de ser marcada no próprio dia. Podemos ter, por exemplo, 160 refeições marcadas e quando chegámos às 10:30 horas temos mais de 200”, exemplifica.
A mesma situação ocorre na Escola 2.º 3.º ciclos José Saraiva, onde “cerca de 20 a 30% das refeições de segunda-feira são marcadas no próprio dia e aparecem muitos alunos no refeitório para almoçar sem terem senha”, adianta Ana Osório, um dos elementos da Associação de Pais daquele estabelecimento de ensino.
Silvina Reis acrescenta que na ESALV o número de refeições não servidas também tem vindo a di- minuir. E esse é um dado que a Câmara de Leiria também nota na sua monitorização, sobretudo, no primeiro dia da semana. “O desperdício é muito menor.”