Foi a tranquilidade e a envolvência natural de Alvados, ladeada pelo seu 'vale encantado', que conquistaram Rui e Rita Anastácio e que os levou a comprar uma casa devoluta na povoação. A ideia inicial era recuperá-la para habitação, mas ainda antes do início das obras o casal mudou os planos e avançou com um projecto turístico.
Foi assim que, em 2004, abriu portas a Casa dos Matos, a primeira unidade de alojamento de Alvados. Quinze anos volvidos, esta aldeia de Porto de Mós, que tem pouco mais de 400 habitantes, dispõe de quase 200 camas turísticas, às quais acresce a Quinta da Escola, que funciona muito com colónia de férias e que pode acolher cerca de 80 pessoas.
De acordo com os dados disponíveis no portal do registo nacional de turismo (https://rnt.turismodeportugal.pt), do Turismo de Portugal, Alvados tem capacidade para alojar 256 pessoas nas várias modalidades (alojamento local, Quinta da Escola e empreendimentos turísticos, onde se inclui o hotel Cooking and Nature – Emotional Hotel, a Pousada da Juventude e três casas de campo).
Aquele valor representa 43% da capacidade de alojamento de todo o concelho de Porto de Mós, que, segundo aquele portal, tem oferta turística para perto de 600 hóspedes. Só em 2017, e de acordo com dados recolhidos pela União de Freguesias de Alcaria e Alvados junto das várias unidades da terra, foram registadas cerca de 30 mil dormidas, a maioria das quais em Alvados.
[LER_MAIS] Antigo presidente da Junta e proprietário de dois estabelecimentos de alojamento em Alvados, António Pedroso olha para os números como a “prova” de que estava certo quando defendia, como autarca, que “o potencial” da aldeia passava pelo turismo.
Foi, aliás, por considerar que “tinha de ser coerente” com as suas convicções que se lançou neste sector. Primeiro com uma loja de artesanato e de produtos regionais, que abriu em 1999 e que acabaria por fechar. Depois com a Flor da Serra, uma casa de turismo que começou a funcionar por volta de 2005, e mais recentemente com a Casa dos Aromas.
O antigo autarca, que é empresário da construção civil, recorda que, no início, em Alvados “não se acreditava muito” nesta estratégia. “Afinal o tempo veio dar razão a quem acreditava”, constata António Pedroso, frisando que o crescimento da oferta de alojamento na aldeia tem tido impactos positivos nas povoações vizinhas, estimulando o aparecimento de outros negócios, nomeadamente na área da restauração.“Quando começámos com a Flor da Serra tínhamos também de fazer as refeições porque não havia oferta a este nível. Hoje, já não é assim”, conta.
Rui Anastácio estava também no grupo daqueles que acreditavam no potencial turístico de Alvados, numa época em que “não havia nada” na aldeia nesta área. “Há 15 anos, existiam três fábricas de confecção, que entretanto fecharam. Hoje, o turismo é uma alternativa [de emprego], embora não proporcione os mesmos postos de trabalho”, constata o responsável pelo Cooking and Nature, hotel que abriu portas no final de 2012 e que tem vindo a coleccionar prémios.
A unidade preparar -se agora para abrir um segundo espaço, resultante da reconversão da Casa dos Matos. “Será o segundo Cooking and Nature e estará operacional no final do Verão”, adianta Rui Anastácio, escusando-se, para já, a desvendar mais pormenores.
Actual presidente da Junta, Sandra Martins olha com “muito bons olhos” para o crescimento que o turismo tem tido em Alvados, considerando que, para já, se trata de uma “pressão positiva”, sem ameaçar as características da aldeia.
“Há mais movimento, sobretudo ao fim-de-semana, mas a pacatez e o sossego mantêm-se”, assegura a autarca, que destaca também o efeito do crescimento da oferta de alojamento na dinamização de outros negócios.
“Alvados tem condições naturais ímpares e está próximo de vários pontos de interesse, como monumentos, praias e grutas”, afirma Rui Anastácio, frisando, contudo, que este será sempre “um micro-destino”, que, neste momento, “goza já de alguma notoriedade”.