A história da freguesia de Amor é indissociável aos Campos do Lis (Paúl de Ulmar) e aos seus alagamentos. Na obra Couseiro (1898), Capítulo 145.º, é referido que a freguesia foi criada no ano de 1630, desmembrada da freguesia de Santiago do Arrabalde, porque, no Inverno, devido às cheias, os moradores do dito lugar não podiam vir à sede de freguesia. Ficavam ilhados nos campos. E, nesse lugar pantanoso, havia uma antiga ermida de orago a São Paulo que, mais tarde, fora transferido para a Igreja paroquial de hoje.
A luta do homem e o rio nos Campos dos Lis é secular e estende-se da Barosa até Monte Real. Arduamente, o desenvolvimento de Amor fez-se nas terras encharcadas dos Campos, no cultivo do arroz às custas do «mal das sezões» em crianças e mulheres, sobretudo a malária de águas paradas, enquanto os homens iam trabalhar para a indústria vidreira na Marinha Grande. A freguesia de Amor tem a sua identidade incrustada na história dos seus Campos e isto tem que ser preservado. A economia não se sobrepõe às memórias de um povo.
No horizonte de 2025-2030, a freguesia de Amor será geomorfologicamente transformada por dois grandes projectos. O primeiro será uma unidade de produção de biometano a partir de efluentes pecuários, sobretudo suinícolas, por parte da empresa espanhola Genia Bioenergy.
O investimento envolve uma área de 5 hectares e prevê o tratamento de 400 mil toneladas/ano de efluentes. A sua localização será nos Campos do Lis (a poente do Lisotel) e, até ao presente momento, sem solução de acessibilidades (pela EN109) ao fluxo de camiões que a freguesia irá receber diariamente.
O segundo grande projecto transformador da freguesia será a linha de alta velocidade (LAV) que, ao sair da freguesia de Regueira de Pontes, irá atravessar Amor pelo lugar de Barreiros (a sul do pavilhão desportivo), seguindo por pinhais até à estação LAV na freguesia de Barosa, provavelmente no lugar de Vale da Arieira.
São dois projectos importantes e estruturantes para o concelho de Leiria e para novas centralidades económicas em Amor. A freguesia tem uma demografia envelhecida e, entre 2011 e 2021, perdeu cerca de 4% de população. É verdade que não há desenvolvimento económico sem mudanças adaptativas do território. Mas o desenvolvimento económico não pode implicar uma deterioração da qualidade de vida das populações.
Como será o quotidiano das gentes de Amor com um entra-e-sai de camiões que transportarão os efluentes pecuários? Haverá maus odores? No caso da LAV, como decorrerão as expropriações dos terrenos? Quem defenderá o interesse dos proprietários? Como será o impacto da passagem dos comboios a sul da freguesia? Ruídos, trepidações, terrenos circundantes, o edificado, como será? A história das freguesias paroquiais é a comunidade.
Amor tem um desafio de longo prazo. A sua qualidade de vida comum.