O final das férias coincide com período de maior recrutamento por parte das empresas. Que tipo de profissões são mais solicitadas na nossa região?
Profissões técnicas, como as engenharias, e administrativas, como controlo da gestão e contabilidade.
Os cursos mais apetecíveis para os estudantes coincidem com as necessidades das empresas?
Neste momento, as engenharias estão no topo das preferências dos jovens que entram para a faculdade. A seguir, medicina. Também percebi que houve aumento de candidaturas para o ensino, o que não é habitual, e é também necessário. Portanto, de maneira geral, parece-me que os jovens estão a aderir às áreas necessárias.
Muitos empresários lamentam a falta de preparação dos recém-licenciados à chegada do mercado laboral. Tem existido por parte do ensino superior mais investimento na componente prática?
Depende, existem instituições onde se nota esse investimento e outras onde isso não se verifica tanto. Há grandes escritórios de advogados, por exemplo, que não recebem candidatos vindos de determinada universidade, precisamente porque tem cursos muito teóricos. Por outro lado, as empresas também têm de se abrir mais aos estágios. Seria uma situação onde todos ganhariam.
O problema é que, nalgumas escolas, os próprios docentes nunca tiveram experiência prática.
Nalgumas escolas isso acontece. Noutras não. Pelas entrevistas que faço, os candidatos [LER_MAIS]vão-me falando nisso. Distinguem bem os professores que têm experiência prática dos que não a têm. E reconhecem como essa experiência é importante para a sua formação seja nas engenharias, na saúde, nos recursos humanos, etc.
Depois da pandemia, o trabalho remoto veio para ficar?
Nesta região não me apercebi tanto. Mas em Lisboa, claramente que sim. As pessoas já aceitam ou não um trabalho em função da possibilidade de poder trabalhar a partir de casa, nem que seja durante determinados dias da semana. E tem vantagens para empresas e colaboradores. Para os colaboradores, é a possibilidade de melhor conciliar a vida profissional com a vida familiar. Assim podem organizar-se melhor. Até porque o que interessa é que apresentem o trabalho bem feito. O que interessa é o trabalho entregue e não o tempo que a pessoa fica na empresa. Se as pessoas andam mais satisfeitas e felizes por terem esta possibilidade, certamente que produzem mais. E melhores resultados, são bons para a empresa e para o colaborador.
A redução da semana de trabalho para quatro dias é exequível no nosso País?
Depende das áreas de actividade. Mas de uma maneira geral penso que sim. Sabemos que em Portugal existe a cultura do presentismo em muitas empresas. Tive uma formanda que me disse que nunca podia sair da empresa antes das 20 horas, porque parecia mal. Dizia-me que chegava à empresa às 9 horas, mas que antes das 12 horas não começava a trabalhar. É isto que se quer? Claro que não. Talvez as pessoas, sabendo que conseguem organizar a sua vida, conseguem fazer o seu trabalho e estar mais motivadas, mais entusiasmadas, demorem menos tempo a fazer as coisas. Se estou a fazer algo que gosto, se estou motivada, consigo empenhar-me com todas as minhas forças e o trabalho flui… É bem diferente do que estar a pensar no aborrecimento que é suportar mais umas horas na empresa.
O avanço das tecnologias e da robotização de tarefas é uma tranquilidade ou factor de preocupação?
É uma tranquilidade se soubermos aproveitar o bem que estas ferramentas trazem e nos permitem fazer. A Inteligência Artificial, por exemplo, não tem de nos assustar, muito pelo contrário. Porque estas tecnologias vão permitir fazer trabalhos rotineiros, que não precisam de criatividade, deixando tempo para que as pessoas utilizem aquilo que de melhor têm, que é a sua criatividade. Deixamos para as máquinas o trabalho rotineiro, que não acrescenta valor, para libertar mais as pessoas para fazerem o que é mais criativo, de inovação, que acrescenta valor.
Está o mercado de trabalho preparado e disposto a reconverter recursos humanos e integrá-los em novas funções?
É uma inevitabilidade. Tem de ser. As pessoas têm de se adaptar, sob pena de ficarem para trás. As empresas têm de reconverter e integrar pessoas, assim como o Instituto de Emprego e Formação Profissional, que tem de dinamizar cursos que dêem competências, e que não sirvam apenas para gastar verbas.
Na área da formação, quais são as maiores limitações dos nossos empresários?
Competências de liderança e de comunicação. Mas se uma pessoa está doente e não o reconhece, essa pessoa não vai ao médico. Acontece com muitos empresários, que acham que não precisam de formação. O facto é que, por muito que nós saibamos, podemos estar sempre a aprender. Há sempre coisas novas e há partilha de experiências. Os empresários precisam de ter humildade para se abrir. Não ficam diminuídos por frequentar estas formações. Muito pelo contrário.
Ana Paula Santos é uma mulher num mundo empresarial, ainda muito masculino. Como seria o mundo dos negócios se mais mulheres estivessem em lugares de destaque nas empresas?
Se calhar havia mais empatia.
O vício de aprender
Ana Paula Santos, de Leiria, é fundadora da aps Consultores, que dia 27 de Agosto completou 27 anos de actividade. Tem licenciatura em Psicologia, pós-graduação em Psicologia Positiva e pós-graduação em Neuroliderança, contando ainda com certificação internacional em Coaching, Coaching de Equipas, além de certificação em Programação Neurolinguística. É docente convidada no ensino superior. O seu tempo livre é passado com os amigos, a viajar e a estudar, conta Ana Paula Santos, que reconhece ser viciada em aprender.