A utilização de medicamentos contra a ansiedade, para fins recreativos, tornou-se uma das últimas tendências entre os jovens. E esta realidade verifica-se também na nossa região. Estes tipos de comprido são acessíveis, baratos e são também mais fáceis de traficar do que outras drogas. Mas os especialistas advertem para os efeitos do uso destes medicamentos, altamente viciantes, e que podem resultar no desenvolvimento de doenças do foro psiquiátrico.
Rui A., de 21 anos, é frequentador de festas onde a música serve muitas vezes de pretexto para a utilização abusiva de álcool e de drogas. Ao JORNAL DE LEIRIA, Rui confirmou que uma das últimas tendências durante estes eventos é a utilização de variados tipos de medicamentos que são habitualmente prescritos para problemas de ansiedade.
Nestas festas, os comprimidos são tomados com bebidas alcoólicas, frequentemente tomados também com ketamina (anestésico veterinário) ou drogas psicadélicas como o LSD, e cujo efeito esperado é o relaxamento e a alienação. Ritrovil, Lorazepam, Victan, Olanzapina e Alprazolam (vulgarmente identificado como Xanax) são alguns dos medicamentos utilizados para fins recreativos.
Rui revela que estes são comprimidos muito acessíveis, que os jovens podem conseguir facilmente através de um familiar, a quem o medicamento tenha sido correctamente prescrito. Sendo que é também muito fácil adquirir caixas inteiras destes medicamentos através do mercado negro e via internet. “São drogas legais, ninguém tem problemas se for apanhado com um Xanax”, salienta Rui A., notando como é fácil vender e consumir estes medicamentos. Há no entanto, como noutros tipos de consumos, muitos riscos associados.
“Ficam apagados, a lutar contra o sono, sem se conseguirem mexer”, quanto mais “conduzir” ou “trabalhar” nas horas que se seguem, explica Rui. A.
A mesma realidade é relatada por Paulo G., de 30 anos. O jovem diz saber de algumas pessoas que utilizameste tipo de comprimido, juntamente com outras drogas, para fins recreativos. “Aquilo é um cocktail. Uma grande mistura”, frisa Paulo. E como é uma moda “recente”, como “não há estudos nem testes” sobre os efeitos destes comprimidos tomados com outras drogas, “pode ser um perigo”, salienta o jovem.
Carlo Melo, presidente da Novo Olhar II, instituição sediada na Marinha Grande, salienta que a maior parte dos utentes desta associação continuam a ser os consumidores de heroína e cocaína. No entanto, acredita que, num futuro não muito longínquo, grande parte dos seus utentes possam vir a ser consumidores abusivos destes ansióliticos, anti-depressivos e estabilizadores de humor. E deixa um alerta para a compra de medicamentos contrafeitos, adquiridos na internet, que os jovens possam adquirir sem qualquer noção das substâncias que os possam compor.
Cristina Barroso, coordenadora técnica do CRI (Centro de Respostas Integradas) de Leiria explica que, da experiência do CRI não há conhecimento destas tendência em particular. Mas sabe que “entre a população mais jovem tem havido um aumento dos consumos de álcool e de cannabis (ou similares), bem como a existência desta procura de formas de alteração do estado de consciência recorrendo a diversas substâncias psicoactivas que o possam permitir”.
[LER_MAIS] Sublinha ainda que “a toma de medicação fora dos contextos adequados e de acordo com as prescrições estipuladas quando necessária e, em especial quando misturadas com outras substâncias podem ter efeitos seriamente prejudiciais ao nível da saúde mental dos jovens, e da sua estabilidade emocional, como qualquer outra droga, inclusive alterando a sua capacidade na tomada de decisão perante situações de risco”.