Durante décadas, como professora, sempre estive consciente da impossibilidade de muitos pais acompanharem, diariamente, os seus filhos na realização dos trabalhos de casa. Fosse pelos horários do trabalho dos pais não levarem em conta a existência de filhos em idade escolar, fosse por vidas familiares complicadas, o que é verdade é que essa impossibilidade estava sempre presente o que me levou a tudo fazer para libertar dessa tarefa os pais e a ser eu a assumi-la durante as aulas.
Ora, essa tarefa era hercúlea e por isso, aos poucos, tornei-me adepta do construtivismo, uma corrente pedagógica que entende que o conhecimento, para ter significado precisa de ser construído pelo indivíduo de dentro para fora e não transmitido pelo professor para depois ser memorizado.
Fui verificando que com as minhas novas práticas, os alunos se estavam a transformar em aprendentes mais ativos e motivados e que, por isso, o meu objetivo oculto, que era o de que eles, ao aprenderem a aprender, se tornassem mais autónomos e responsáveis pelo que deviam aprender, ao chegarem a casa, fossem libertando as respetivas famílias dessa responsabilidade.
Nessa minha nova tarefa tive como inimigo principal a falta de tempo para trabalhar com os alunos, uma vez que, toda a escola estava organizada para as práticas do ensino tradicional centrado no professor (que define, em cada aula, os minutos destinados a transmitir os conhecimentos aos alunos que, passivos, os deverão receber para depois os memorizarem) e tal organização não se adequava a práticas centradas nas necessidades de aprendizagem dos alunos.
E foi por isso que quando no Governo de António Guterres, na escola, me aparece com tempos próprios o Estudo Acompanhado eu rejubilei! O objetivo desta área era “a aquisição de competências que permitiam a apropriação pelos alunos de métodos de estudo e de trabalho e proporcionassem o desenvolvimento de atitudes e capacidades que favorecessem uma cada vez maior autonomia na realização de aprendizagens.”
Tal foi, para mim, tão bom que me embrenhei a fundo no pretendido nessa reorganização curricular do ensino e senti uma gostosa necessidade de estudar, de estudar muito para melhor servir a formação dos jovens cidadãos de quem era professora. Pela primeira vez, alguém do Governo do meu País tinha posto a escola ao serviço de todos os portugueses e não só para treinar os futuros universitários!
Desde então desenvolvi um enorme respeito por António Guterres e ao ir acompanhando todo o seu percurso, esse respeito cresceu e nele, atualmente, como agente da paz, tenho uma confiança sem limites. Aos seus críticos da atualidade deixo de Martin Luther King Jr a afirmação: “Se não puder voar, corra. Se não puder correr, ande. Se não puder andar, rasteje, mas continue em frente de qualquer jeito.”
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990