Serão quase 500 fogos, distribuídos por três núcleos, e um hospital privado. A urbanização da Quinta da Malta, promovida pela sociedade Poligreen, do Grupo Mekkin (antigo Grupo Meneses, de Porto de Mós), acaba de receber luz verde da Câmara de Leiria.
O loteamento foi aprovado na terça-feira, em reunião de executivo, com os votos contra dos vereadores do PSD, que contestaram a densidade de construção da nova urbanização e alertaram para as implicações que terá na zona, nomeadamente, ao nível do trânsito.
É que, a Sul, o tráfego do loteamento passará pela Rua Manuel Ribeiro Oliveira (junto à sede da Associação de Futebol de Leiria) e irá desembocar na rotunda D. Dinis, que perderá uma faixa de rodagem para receber a circulação automóvel proveniente da urbanização e do novo centro comercial, que está a nascer na zona e que terá uma unidade do Pingo Doce.
Acresce que do lado oposto da rotunda, a Câmara pretende construir um parque de estacionamento, com cerca de 400 lugares, em terrenos da ex-prisão-escola. A Norte, o acesso à urbanização será feito através da rotunda da variante dos Capuchos e da designada 'Estrada da Marinha', um ponto da cidade que, em determinados momentos do dia, já regista congestionamento de trânsito.
“Cortar uma faixa à rotunda [D. Dinis] vai ser o caos. As actuais três faixas já são poucas a certas horas do dia”, advertiu Fernando Costa, vereador do PSD, durante a reunião de Câmara. Já há um ano, aquando da discussão do Plano de Mobilidade e Trânsito de Leiria, este foi um dos pontos considerados críticos pelos autores do trabalho e pelos técnicos da autarquia.
Além das implicações no trânsito, os vereadores da oposição contestaram a densidade de construção da nova urbanização, que terá 483 fogos, sendo que 16 dos 18 lotes destinados a habitação terão seis pisos acima da cota da soleira (um dos dois restantes ficará com quatro pisos e o outro será para habitação unifamiliar).
Haverá ainda quatro lotes para equipamento, comércio e serviços, que serão ocupados com um hospital privado (ver texto ao lado), e um outro que poderá ser utilizado para quiosque (comércio/serviços). No total, serão quase 133 mil metros quadrados de construção, na faixa que se estende ao longo da A19, entre o futuro Pingo Doce e a rotunda da variante dos Capuchos.
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Um “monstro de betão” compensado com parque
“Vai ser um monstro de betão. Calculando três a quatro pessoas por fogo, serão quase dois mil [LER_MAIS] moradores”, sublinhou Fernando Costa, lamentando a falta de espaços ajardinados na urbanização. “Zonas verdes serão zero. É só betão”, enfatiza.
Em resposta, o presidente da Câmara alega que o loteamento “não viola aLei” e que, durante a discussão pública, “não houve reclamações”.
Por seu lado, Rita Coutinho, vereadora do Urbanismo, alega que os espaços verdes estão “salvaguardados” com a construção do parque urbano que irá nascer do outro lado da A19 (antigo IC2), em terrenos cedidos pelo promotor do loteamento, e que terá duas ligações pedonais à urbanização, com duas passagens inferiores (ver infografia).
“Será uma grande zona verde, com equipamentos e áreas para a prática de desporto ao ar livre, equiparado ao futuro jardim da Almoinha”, reforçou a vereadora.
Fernando Costa considera, no entanto, que a construção do parque não devia “dispensar” a urbanização de ter “o mínimo” de espaços públicos e equipamentos para usufruto dos residentes.
No entendimento do vereador da oposição, “não há razão para a Câmara dispensar a cedência de espaço para equipamento e zonas verdes junto às casas”, manifestando- se “totalmente contra a este tipo de solução que permite que as cedências sejam feitas noutro local onde o promotor não pode construir”. “É a sorte grande para o urbanizador, em prejuízo da qualidade de vida das pessoas de Leiria”, conclui.
O presidente da Câmara contrapõe com a “legalidade” do processo. “A partir do momento em que é permitido fazer, que argumentos temos? Não podemos ir contra os direitos das pessoas se cumprem a lei”, argumenta Raul Castro. “Há outros critérios a ter em contam como o enquadramento urbanístico. Mas, de facto, o PDM é muito permissivo”, retorquiu Fernando Costa.
De acordo com a deliberação da Câmara, aprovada na terça-feira, os promotores – que não foi possível contactar até ao fecho desta edição – propõem-se a executar o loteamento por três fases. A primeira a avançar contempla a construção do Hospital CUF Leiria, que a empresa José de Mello Saúde pretende ter a funcionar em 2019.
Segundo aquela deliberação, o pedido de aprovação da operação de loteamento “encontra-se ainda sujeito ao pagamento de compensações devido à área não cedida, em número ou em espécie”, no valor aproximado de 1,7 milhões de euros. Nessas contas, entrará a zona a ceder para o futuro parque verde, a construir junto ao Aki.