Durante três dias, uma equipa de 15 arqueólogos e espeleólogos irá viver a 100 metros de profundidade, no interior de um algar inserido no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, em Ourém.
Segundo a investigadora principal, Alexandra Figueiredo, professora do Instituto Politécnico de Tomar, esta expedição, “inédita no País”, acontecerá entre 12 e 14 de Julho, no Algar da Malhada de Dentro, e está a ser preparada ao detalhe. “Os investigadores estão a tratar de toda a logística, de forma a garantir o sucesso da campanha e segurança dos investigadores, bem como a exumação rigorosa e extracção eficiente dos vestígios para a superfície.”
A entrada começa logo com 54 metros de vertical, seguindo-se um trajecto de poços ascendentes e descendentes, buracos estreitos e paredes abruptas, [LER_MAIS]onde espeleoarqueólogos vão dar azo às suas habilidades até chegarem à sala onde se reconheceram vestígios de presença humana antiga, isto é, uma grande quantidade de ossos humanos a par com fauna. Além destes vestígios, que observaram na primeira incursão realizada no ano passado, os arqueólogos esperam encontrar materiais que auxiliem a datação da ocupação.
Alexandra Figueiredo, que também é membro do Centro de Geociências e colaboradora do Centro de Investigação de Ciências Históricas, refere que “os vestígios, atendendo ao contexto regional e observações registadas na primeira visita, enquadram-se com uma alta probabilidade na pré-história recente”.
Outro coordenador da investigação, Cláudio Monteiro, membro do Centro de Investigação de Ciências Históricas da Universidade Autónoma de Lisboa, menciona que “o grande desafio será manter a conservação dos elementos orgânicos, nomeadamente os ossos humanos e fauna, atendendo à humidade do ambiente em que estão inseridos e a complexidade de transporte dos mesmos ao longo da cavidade”.
Especialistas da área da Antropologia estão também presentes entre os elementos de equipa. Entre eles Daniel Alves: “Isto tem sido uma verdadeira aventura na organização logística, mas também no esforço físico. Para ultrapassar determinadas zonas da cavidade tive de emagrecer, pois não passava nos buracos.”
Constrangimentos
Do risco e à falta de privacidade
Além dos riscos associados à descida e permanência no algar, que merecerão a presença de espeleólogos do Centro de Estudos e Actividades Especiais e especialistas em salvamento, Alexandra Figueiredo fala de outras limitações desta expedição. “Não há privacidade. A equipa dorme em colchonete, num pequeno espaço existente perto da sala principal.” Este projecto, que está a ser apoiado pela Câmara de Ourém, desenvolverá trabalhos arqueológicos noutros locais, adianta Alexandra Figueiredo.