Maior e (ainda) melhor. Hoje, 7 de Julho, pelas 17 horas, a Arquivo entra numa nova fase, sem deixar para trás nenhum dos atributos que a caracterizam.
Pela Avenida Combatentes da Grande Guerra, em Leiria, têm passado, em tertúlias ao encontro dos leitores, praticamente todos os grandes nomes da literatura portuguesa, de António Lobo Antunes a Gonçalo M. Tavares. E muitos outros artistas de quase todas as artes.
A reabertura da livraria reforça a declaração de independência de uma espécie de principado da cultura, lugar raro, onde clientes e funcionários se tratam como família e os maiores escritores e editores portugueses se sentem em casa.
Após três meses de obras, a Arquivo expande-se para o número 51 e ganha 130 metros quadrados, com projecto de arquitectura assinado por Pedro Cordeiro e Patrícia Selada. Que beneficia, sobretudo, o atendimento ao público e permite ampliar (e diversificar) a disponibilidade de livros em loja.
“Estamos a melhorar um pouco a estrutura de oferta”, confirma a proprietária, Xana Vieira. E promete: “É só o início”, porque “faz parte da génese” da Arquivo “nunca estar satisfeita”. A cafetaria também cresce, tal como a zona de gift.
Para assinalar o regresso da livraria que em 2023 comemora 45 anos, nesta sexta-feira é inaugurada uma exposição de Abílio Febra e está anunciada uma performance com coreografia de Dora Fonseca, além de momentos de declamação de poesia acompanhados à guitarra; no sábado, a manhã será ocupada com uma oficina de ilustração para o público mais jovem orientada por Paulo Galindro, enquanto durante a tarde decorre uma conversa com o escritor Gonçalo M. Tavares sobre o mote “O que pode a arte?” e há concertos de Lince, Luís Jerónimo e Sean Riley.
Fundada em 1978, a Arquivo que hoje existe é um conceito que surge no ano 2000, com a mudança para o número 55 da Avenida Combatentes da Grande Guerra e o arranque de uma programação intensa – com apresentações de livros, claro, numa dinâmica que ao longo dos anos acolheu, entre outros, Afonso Cruz, Alexandra Lucas Coelho, Alice Vieira, Inês Pedrosa, João Tordo, José Luís Peixoto, Pedro Mexia, Ricardo Araújo Pereira, Valter Hugo Mãe e, já este ano, Paulina Chiziane, mas, também, com sessões de contos para crianças, exposições, debates, concertos, workshops e um clube de leitura que é dos mais antigos no País.
“Um dos elogios mais feitos pelos nossos clientes e amigos, generosos nas palavras, é esse sentimento que têm de a Arquivo ser como uma segunda casa. Ou de se estar muito bem por cá”, comenta Xana Vieira. “Será sempre o objectivo principal”. O horário alargado e a secção infantil contribuem para o acolhimento. “Que seja cada vez mais um espaço coerente com as nossas convicções, importância dos livros, dos amigos. Será um elogio a ambos. Sem eles não existimos”.
O investimento que esta semana se materializa constitui um “passo em frente” que “não reflecte duma forma objectiva a vida dos livreiros”, porque “nem sempre é possível viver dos livros e para os livros”, concede Xana Vieira. Daí, a importância da distribuição e das marcas representadas, em que se incluem, através de outra empresa, a Taschen e a Moleskine. “Queremos ser e estamos a fazer para ser cada vez mais independentes. Sabemos que as livrarias independentes são um oásis para as comunidades em que se inserem, sabemos que devem continuar a existir, mas que isso é uma luta constante”.
No apoio à cultura, através de autores com projecção nacional, e, ao mesmo tempo, no incentivo ao meio artístico de Leiria, encontra-se, provavelmente, a essência do projecto Arquivo. “Se as pessoas não lêem e se não existe diversidade de títulos, e de quem goste a sério de livros, pensa-se menos, escreve-se pior e há menos hipóteses de entendermos os outros e de nos mantermos em democracia – há menos diversidade de opiniões – e somos menos livres”, lembra Xana Vieira. “Por isso, ler e conversar é tão fundamental. Por isso, os livros e as livrarias devam ser pensados duma forma mais fecunda, mais comunitária. Por isso, todas as actividades que fazemos já há vinte e três anos. E vamos continuar a fazer”.
Várias vezes no topo das livrarias preferidas pelos portugueses, a Arquivo é, nota Xana Vieira, muito mais do que uma livraria. “Se o apoio à cultura, à educação para a leitura e às artes em geral, existisse mais, teríamos um mundo menos só, mais unido. Talvez. Os livros são parte essencial da educação e sem educação é mais di§ícil o país crescer, num mundo solidário e democrático, sem excepções”.