Criatividade? “A escola não tem muito tempo para a criatividade". Pior: "a escola mata a criatividade". Nelson Cardoso está a citar o pedagogo inglês Ken Robinson, na edição quatro das Conferências da Arquivo, sábado, 9 de Julho, em Leiria, depois de lembrar que o novo ano lectivo, em Setembro, acolhe pela primeira vez crianças que vão concluir o ensino secundário lá para 2029, nunca antes, se o ensino secundário se mantiver como o conhecemos, que chegarão ao mercado de trabalho dentro de 15 ou 20 anos, a julgar pelo formato actual de licenciaturas e mestrados, e que, presumivelmente, viverão até ao século XXII. Mas estes portugueses de amanhã são formados no contexto de hoje, um contexto em que “não damos espaço para errar” e na próxima oportunidade o aluno “não arrisca”, reconhece o professor e adjunto da direcção no Agrupamento D.Dinis. Ou seja, deixa de percorrer “o seu próprio caminho" e "passa a percorrer o caminho dos adultos que estão à volta", o que, desde logo, surge como limitação à criatividade e ao impulso natural para a descoberta que as crianças manifestam. Alternativa? A escola das diferenças, em que os mais novos intervêm directamente na construção das rotinas, das aprendizagens e do planeamento do trabalho. Se a escola sem notas ainda vem longe, muitos princípios que colocam o aluno com voz activa nos ritmos do que acontece na sala de aula integram já um projecto-piloto na Marinha Grande.
A proposta do colectivo a9)))), que organiza as Conferências da Arquivo, passava por discutir a criatividade na cidade. Ponto de partida: como estimular a vontade de descobrir? Criatividade e escola são compatíveis? Ser criativo ensina-se? Também professor, o dramaturgo Luís Mourão responde concordando com a ideia de que a escola mata a criatividade, porque “é um objecto construído para para uniformizar", que “espartilha e exclui”. Na visão do presidente do Conselho Geral do Agrupamento Correia Mateus, “a escola tem obrigação de proporcionar o máximo de experiências possíveis”, tal como a cidade.
“A criatividade para mim é a utilização de um material que se conhece bem para criar uma coisa que nao existia, o resto são invenções”. Conferir um novo sentido a coisas como as palavras, as tintas, os computadores, entre outras, passa por errar, errar outra vez e errar melhor, pela capacidade de alguém se ultrapassar a si mesmo, de crescer com novos problemas, considera Luís Mourão. Cidades criativas? Não há. “O que eu conheço são pessoas criativas que vivem na cidade". E experiências. “Quanto mais essas coisas forem dadas pela cidade, mais essa cidade estimula a criatividade".
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