Há cerca de um mês atrás reuni um grupo de amigos e família para celebrar mais um ano da minha vida. João de Deus escreveu num dos seus poemas que só um tolo celebra quando faz anos “ainda, se os desfizesse” dizia ele. Compreendo o humor do poeta, quando estranha o facto de celebrarmos o caminho para a velhice, mas a verdade é que esse momento também pode trazer consigo (se estivermos com disposição para isso) a oportunidade de juntarmos e abraçarmos aqueles que mais gostamos.
Acredito verdadeiramente no efeito terapêutico que os amigos e a família podem ter e por vezes basta duas ou três trocas de palavras e sorrisos para voltarmos a retomar o bonito e reconfortante sentido da vida. Nesse dia de celebração, estava sol e o vento soprava leve. Um dos amigos de quem muito gosto ofereceu-me, como me oferece sempre, um livro de poesia.
Na verdade, utilizar o determinante artigo indefinido “um”, para “Os poemas completos” de Herberto Helder configura-se como redutor para um objeto de genialidade tão absoluta. Ali, naquele momento, por instantes recuei uns anos atrás, e entrei numa sala de aula, na disciplina de Literatura Infantil, onde uma professora maravilhosa convidou os seus alunos a viajarem pelas palavras que Herberto desenhou sobre o “sorriso louco das mães”, no poema “Fonte”.
E que viagem tão bonita aquela em que o poeta nos conta que “As mães são as mais altas coisas que os filhos criam…”. Nós, filhos, somos os criadores da personagem mais bela das nossas vidas. Aquela que nos protege, que cuida de nós e que nos faz acreditar que na vida nada é impossível.
Nas nossas mães cabe sempre o infinito. Mães biológicas, mães adotadas, mães tias, mães avós e todas as mães que tenham dentro de si esse espírito tão puro e delicado de amar um filho e de o proteger. Para um filho são sempre elas o Ser mais forte das suas vidas. Relembrar o poema de Herberto fez-me observar com mais atenção a forma como o meu pequeno filho de 8 meses se cola ao peito da mãe e comunica com o seu olhar tão puro que é ali onde ele se sente verdadeiramente seguro.
Observei também o brilho no olhar dos meus alunos e a beleza das suas palavras quando os desafiei a escreverem um poema para as suas mães – “Na verdade mãe, tu és e sempre serás um amor sem fim.” E guardei tempo precioso para mim e para pensar na minha mãe, na sua serenidade, na sua bondade e na sua sempre compreensão comigo e com todos aqueles que a rodeiam.
Na verdade, para mim, ser mãe é ser o mundo todo.
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990