Se no próximo dia 5 de Agosto, quando visitar o Santuário de Fátima, o Papa Francisco cumprir a tradição de deixar uma oferta no templo mariano, e se essa recordação for mais uma Rosa de Ouro, o Santuário da Cova da Iria passa a ser um dos espaços religiosos no mundo com mais distinções atribuídas pelos líderes da Igreja Católica em sinal de reconhecimento pelos serviços prestados à Igreja ou a bem da sociedade.
Na sua última visita a Portugal, em Maio de 2017, por ocasião da celebração do Centenário das Aparições, Francisco iniciou a sua peregrinação na Capelinha das Aparições, onde entregou a terceira Rosa de Ouro ao Santuário de Fátima.
Durante a oração, que manteve os milhares de peregrinos em silêncio durante vários minutos, o Santo Padre teve a oportunidade de fixar a coroa da imagem de Nossa Senhora de Fátima, onde está incrustada a bala que quase matou o Papa João Paulo II num atentado, e que ele fez questão de oferecer “a Maria”, num gesto de agradecimento por ter sobrevivido.
Esta é uma peça de elevado valor simbólico, mas apenas mais uma, entre muitas outras que os papas já ofereceram ao templo mariano. As prendas apostólicas começaram a chegar à Cova da Iria no tempo do Papa Paulo VI. Numa das últimas sessões do Concílio Vaticano II, o pontífice concedeu ao Santuário de Fátima a primeira Rosa de Ouro, que viria a ser entregue em mão, em Maio de 1965, pelo cardeal legado Fernando Cento.
Dois anos depois, seria o próprio Paulo VI a deslocar-se a Fátima, e a deixar mais um lote de lembranças, algumas delas bem generosas, tendo em conta o contexto económico e social da época.
Depois de depositar um terço em prata aos pés da imagem da Virgem Maria, nas celebrações do 13 de Maio de 1967, o primeiro Papa a visitar o local das aparições relatadas pelas três crianças de Aljustrel, reuniu-se com o episcopado português e entregou donativos “para os pobres e para as missões, num valor aproximado de 10 mil contos”, segundo a imprensa da época.
Ao santuário, Paulo VI deixou ainda os paramentos e as alfaias religiosas com que celebrou a missa (cálice, mitra, cruz peitoral e báculo) e um cheque de dez mil dólares.
Em Março de 1984, o Papa João Paulo II surpreendeu o então bispo de Leiria, D. Alberto Cosme do Amaral, oferecendo-lhe um pequena caixa com “uma presente para Nossa Senhora”. Lá dentro, estava o projéctil disparado pelo turco Ali Agca, a 13 de Maio de 1981, na Praça de São Pedro, em Roma, que quase o ia matando.
Mais tarde, em Maio de 2000, na sua terceira e última visita a Fátima, João Paulo II proclamou Francisco e Jacinta Marto como beatos e deixou ao Santuário o anel em ouro do seu pontificado, que lhe havia sido oferecido em 1978 pelo cardeal Stefan Wyszynsky, arcebispo de Varsóvia.
O “Papa de Fátima”, como ficou conhecido em Portugal, não haveria de morrer sem enviar mais uma ‘prenda’ para a Cova da Iria: no dia 9 de Março de 2004, entregou ao reitor do santuário – à época o padre Luciano Guerra – uma pedra do túmulo de São Pedro para ser tomada como primeira pedra da Basílica da Santíssima Trindade.
Já Bento XVI visitou o Santuário de Fátima num período em que os peregrinos portugueses ainda clamavam pelo seu antecessor, em Maio de 2010, e fez questão de depositar junto à imagem de Nossa Senhora uma segundo Rosa de Ouro.
Na oração que dirigiu à Virgem Maria, na Capelinha das Aparições, também ele fixou os olhos na coroa da imagem de Nossa Senhora de Fátima e recordou o papa polaco: “É profundamente consolador saber que estais coroada, não só com a prata e o oiro das nossas alegrias e esperanças, mas também com a bala das nossas preocupações e sofrimentos”, expressou.