Face à insegurança, muitas companhias de transporte marítimo estão a deixar de usar o Canal do Suez para chegar ao Mediterrâneo nas rotas entre a Ásia e a Europa, preferindo usar a velha rota à volta do Cabo da Boa Esperança, na África do Sul, um caminho mais longo, que começa a ter impacto tanto nas exportações, como nas importações.
Na região, o ramo de actividade mais penalizado é o da pedra natural, que tem de se socorrer de transportes com grande capacidade de deslocação, como as embarcações, em detrimento do transporte aéreo.
“Os ataques estão a ter um grande impacto na área da pedra natural, em virtude, de, em primeiro lugar, sermos um sector fortemente exportador. Quase tudo o que produzimos segue, na sua maioria, por via marítima. Por essa ordem de grandeza, os custos dos fretes e dos custos associados a este tipo de transporte aumentaram muito significativamente”, garante Miguel Goulão, presidente da Assimagra – Associação Portuguesa dos Industriais de Mármores Granitos e Ramos Afins.
O impacto sentido com maior significado, além do aumento do prazo da entrega das mercadorias, que o empresário entende ter menor significado, é o aumento dos custos, de transporte, pelo risco que comportam agora estas operações.
“Os aumentos foram, na maioria dos casos, superiores sempre a 30%”, declara Miguel Goulão.
O presidente da Assimagra adianta que os contratos com os armadores contam com cláusulas que prevêem, em específico, a alteração de preçário quando estas circunstâncias possam ocorrer.
“É com base nisso que eles estão a fazer as correcções nos fretes que já estavam contratualizados. Ou seja, há muitas empresas de logística, que já têm contratos firmados com transitários com actividade de operadores de carga, mas esses contratos podem ser alterados com base nessa cláusula. E foram alterados”, refere.
A isto, somam-se os contratos novos que já são apresentados aos empresários do sector com todas as correcções aplicadas.
“Tudo o que seja exportar para o mercado do Médio Oriente e Asiático tem impacto aqui. Não só a China, portanto. Tudo o que seguiria pelo Canal do Suez foi afectado.”
Miguel Goulão diz, contudo, que todo o panorama geopolítico está a ter impacto nas empresas e no tecido empresarial, independentemente do ramo.
“Esta é uma situação nova, mas temos outras que não deixam de ter consequências muito negativas, como a guerra da Ucrânia, que parece que já está esquecida, e o conflito na Faixa de Gaza.”
Conflitos que influenciam os aspectos logísticos e todos os custos de contexto associados.
É com preocupação na voz que Miguel Goulão avisa que, caso estes conflitos se mantenham activos durante muito mais tempo, a economia em 2024 vai-se ressentir em toda a Europa.
Moldes e carne não sentem impacto directo
Manuel Oliveira acredita que, de acordo com os dados transmitidos pelos associados até agora, “nas exportações, não haverá problemas de maior.”
Isto acontece porque o sector dos moldes, praticamente, não exporta para localizações naquele ponto cardeal.
“A economia, porém, sofre sempre por arrasto”, diz o secretário- geral da Cefamol – Associação Nacional da Indústria de Moldes.
O responsável adianta, contudo, que, no caso das importações, o caso é diferente, embora também aqui a exposição ao conflito seja pequena.
O panorama seria diferente antes da pandemia da Covid-19, quando as transacções entre Portugal e China eram mais frequentes.
“Os impactos indirectos, contudo, são prejudiciais, porque isto cria sempre alguma desconfiança, uma imprevisibilidade, e indirectamente afecta sempre a nossa actividade”, diz, reafirmando que, em termos de concretos e na produção de moldes, a associação sectorial não detectou ainda sinais de que os ataques estejam a afectar o sector.
No ramo agroalimentar, o maior exportador da região, e um dos maiores a nível nacional, é o da carne de porco.
Neste caso, o impacto directo também ainda é pouco sentido, apesar de os mercados asiáticos serem dos principais destinos para a produção.
“Ainda não temos dados que mostrem que essas consequências sejam sentidas, mas sabemos que tem sido mais difícil encontrar contentores para enviar a produção para a Ásia”, explica o presidente da Federação Portuguesa de Associações de Suinicultores.
David Neves reconhece que as rotas marítimas que levam ao destino asiático são muito importantes para o sector a nível europeu, porém teme que os impactos se verifiquem de modo indirecto, nomeadamente com o aumento dos custos de produção, como acontece com a guerra na Ucrânia.
“A subida do preço dos combustíveis leva ao aumento do preço das rações, da electricidade, dos transportes e de muitas outras questões”, alerta.