Patrícia Carreira sempre detestou correr. Ligada ao desporto, praticou diversas modalidades, mas a corrida era aquela que tentava evitar.
Parte da família gostava de correr e, das vezes que a acompanhava, recorda-se que era sempre com “muito esforço”.
Ao regressar a casa depois da vida universitária, em Colmeias, no concelho de Leiria, quis perder peso e a corrida pareceu-lhe ser a solução mais acertada. “Quando comecei a correr, comecei logo a ter bons resultados. Isso obviamente dá outra motivação”, admite Patrícia Carreira, que agora persegue a medalha ‘Big Six’, atribuída àqueles que completam as seis maiores maratonas do mundo.
No início, a maratonista nem sabia da existência desta medalha. Em 2014, viu nas notícias a Maratona de Berlim, e pensou: “Eu gostava de estar ali”. Não tomou meias medidas e, nesse mesmo dia, inscreveu-se na Maratona do Porto.
Nessa altura, Patrícia Carreira já corria desde Colmeias até Vieira de Leiria, acompanhada pelo pai. Eram cerca de 30 quilómetros e, com o objectivo de participar numa maratona, resolveu estender o percurso até à Praia do Pedrógão. Ida e volta, completou os 42 quilómetros, e percebeu que tinha capacidade para correr numa maratona.
“Toda a gente dizia ‘Tu és maluca, nunca vais fazer uma maratona, tens 20 e poucos anos’”, recordou a atleta. No Porto, terminou a prova em 2h59.
O gosto pela corrida já lhe corria no sangue e, logo a seguir, inscreveu-se na Maratona de Berlim. Ao saber que existia uma medalha atribuída àqueles que completavam as maiores maratonas do mundo, Patrícia Carreira estabeleceu o seu objectivo: correr as seis maiores maratonas do mundo, com bons tempos que permitissem entrar por qualificação, tudo antes dos 30 anos.
Depois de Berlim, seguiu-se a Maratona de Boston, em 2018. Preparava-se, em 2020, para participar na de Tóquio, quando surgiram os primeiros casos de Covid-19 e, por isso, não viajou para aquele país asiático, sendo que a prova acabou por ser cancelada.
Entretanto, a maratonista participou noutra viagem – a da maternidade – e em 2023 regressou às provas, ao concluir a terceira maratona, desta vez de Chicago. “A envolvência puxa por nós. Temos tanta gente atrás de nós e tanta gente à nossa frente, que quando perguntam ‘Ficaste em que lugar?’. Respondo ‘Não sei, nem me interessa.’ Isso não importa porque ali é outra dimensão. É termos a noção da nossa pequenez e irmos para uma dimensão muito grande”, afirma a desportista.
A Maratona de Chicago foi aquela que a marcou mais. A prova acotece durante um feriado nacional e “toda a cidade pára para aquilo”. Entre crianças que lhe queriam oferecer gelados pelo caminho, percorrido sempre com ‘barbecues’ ao lado, Patrícia Carreira encontrou alguém, na mesma maratona, que envergava uma bandeira de Portugal.
Numa corrida que tem mais de 50 mil atletas, qual não foi o espanto quando percebeu que o atleta português era, também, de Leiria.
Nova Iorque e Londres são as próximas maratonas
Este ano, a atleta leiriense também já concluiu a Maratona de Tóquio. Já só faltam duas para conquistar a ‘Big Six’ e a próxima está marcada para 3 de Novembro, em Nova Iorque, sendo que Patrícia Carreira está agora à espera de saber se entra, novamente, por qualificação.
Seguir-se-á, depois, a de Londres. “Nós podemos gostar muito de correr, mas se não tivermos um objectivo, as coisas desvanecem”, acredita a maratonista.
Além de correr, Patrícia Carreira é ainda consultora de projectos e nutricionista. Ao somar a dinâmica familiar, sobra pouco tempo, o que leva esta leiriense a relativizar os treinos, que normalmente decorrem no Polis.
“Prefiro não treinar do que estar a estragar. Se me perguntarem ‘Treinas todos os dias?’. Respondo que não. Se não me sinto bem eu não treino”, comentou.
E depois de conquistar a Big Six? As corridas de Patrícia Carreira não vão terminar. Agora com 32 anos, esta atleta sonha também participar na ‘Big 5 Marathon’, que percorre as savanas em África, na Maratona do Pólo Norte e na Maratona da Muralha da China.
A seguir, também já fala no ‘Triatlo Ironman’ que, além dos 42 quilómetros de corrida, tem 3,8 quilómetros de natação e 180 de bicicleta.
“São sonhos, ou devaneios. Isto nunca acaba porque vai haver sempre outro desafio maior”, brinca a atleta.