A pandemia levou Ricardo Simões a praticar uma nova modalidade. O desporto já fazia parte da sua vida, dado que praticou durante muitos anos andebol.
Contudo, durante o confinamento provocado pela Covid-19, o leiriense adquiriu uma nova companhia: o Bryan,um cão da raça alemã weimaraner.
O objectivo, no entanto, não era ter companhia em casa. Era ter um pretexto para sair à rua. “Foi a forma de, dentro do confinamento, poder conviver”, assume Ricardo Simões.
Apesar de já conhecer este desporto há vários anos, que tem mais expressão no norte do País, o bancário de profissão decidiu começar a praticar canicross.
Em quatro anos, o atleta ainda não conheceu ninguém na região de Leiria que se dedique ao mesmo desporto. Com poucos atletas, Ricardo Simões pretende “alavancar a promoção da modalidade” na região.
“Desafiei-me a mim próprio e estou a tentar realizar uma prova em Leiria”, acrescenta.
É a 20 de Abril que Ricardo Simões quer reunir a população que já gosta de passear com os seus animais e dar a conhecer esta modalidade.
E não, o canicross não é uma simples corrida com um cão. Tem regras que garantem o bem-estar do animal e do corredor.
As condições devem ser propícias e, para isso, a temperatura é um aspecto a ter em conta.
“Tem de ser em terra batida, com pouca elevação, e as temperaturas não podem passar os 18º”, explica.
De madrugada, durante a noite ou em dias frios são as alturas ideais para praticar este desporto.
Ricardo Simões revela que o canicross provoca “uma simbiose brutal entre o corredor e o animal, com uma comunicação constante, onde o animal percebe quando é para acelerar ou para virar”.
Quando está a correr, o cão entra em “modo pista”, e são poucas as distracções que o fazem parar.
Na perspectiva de Ricardo Simões, mais do que o prazer de praticar desporto, é ver a “satisfação” do Bryan que o leva a dedicar-se ao canicross.
Além de melhorar a condição física, este desportista sabe que também a condição mental do Bryan é estimulada. “Os animais que passam tantas horas sozinhos vão-se degradando mentalmente”, constata.
Ricardo Simões tem agora o objectivo de dar a conhecer o canicross à população.
Apesar de serem realizadas provas a nível nacional, principalmente em Sernancelhe, o leiriense não pretende introduzir, para já, a competição neste evento.
“Não estamos a falar de competição e de entregar prémios monetários às pessoas. Apenas e só a promoção da modalidade e a aproximação à comunidade”, refere.
Apesar das temperaturas amenas na região, Ricardo Simões afirma que Leiria e os concelhos limítrofes têm “óptimos trilhos” para a prática de canicross.
Só é necessário, previamente, escolher um percurso adequado às regras da modalidade.
Respeito pelo animal
Embora existam poucos praticantes no País, que não justificam a organização de grandes competições, o canicross é um desporto com muitos adeptos em países mais frios.
Em Portugal, o cenário é diferente, com uma coisa em comum: o respeito pelo bem-estar dos animais.
O presidente da Associação Portuguesa de Mantrailing e Canicross, Rui Resende, lembra que qualquer animal, de pequeno ou médio porte, pode realizar canicross, desde que tenha mais de 18 meses e, caso apresente doenças cardíacas ou respiratórias, terá de ser um veterinário a autorizar.
“O cão nunca diz que não, nós é que temos de ser conscientes do que andamos a fazer”, alerta.
Por isso, esta modalidade exige material adequado, como um arnês adaptado à tracção e um elástico que une o corredor ao animal.
“No Verão, quando vou treinar, vou à noite. De dia, vou para percursos sombreados. São esse tipo de coisas que temos de ter consciência. Em alcatrão nem pensar, nada de superfícies duras. É um desporto que é feito na natureza. [Não se deve praticar em] nenhum local que possa colocar a integridade deles ou a nossa em causa”, descreve Rui Resende.
O presidente desta instituição, fundada em 2019, já constata a presença de mais pessoas, com os seus animais, na rua.
“Já vemos mais pessoas a passear os seus cães e a fazer desportos com eles. Há pessoas que nem sabem o nome, mas o nome não importa”, assume o dirigente, ao referir que o mais importante é os animais e os donos saírem à rua.