Habituada a praticar Muay thai desde pequena, Beatriz Damásio, de 12 anos, troca a arte marcial tailandesa por uma manhã de domingo a aprender a manusear um pequeno pau de madeira ao ritmo dos ensinamentos do pai.
Apaixonada por desporto, assume que sabe pouco sobre o Jogo do Pau mas garante que “é fixe” e não tem medo de se magoar mesmo no meio de uma autêntica luta onde há pouco espaço para erros.
O que talvez não saiba é que esta é uma arte marcial portuguesa de origem popular tradicional com características inéditas a nível mundial, que antes era muito usada pelo povo para defesa pessoal ou combates e até há registos da sua prática na região de Leiria.
“É uma espécie de uma esgrima, com uma vara de madeira, o que não é convencional porque normalmente as artes marciais não lidam com instrumentos ou ‘armas’”, acrescenta o pai, Rui Damásio, 50 anos.
Curioso por novos métodos, adepto de desporto, defensor dos saberes portugueses e dedicado a causas associativas, decidiu experimentar a modalidade há poucos meses e está a dar os primeiros passos na “luta” para que ela regresse e cresça na região onde tem tradição.
Juntamente com um colega que segue as pisadas do avô no Jogo do Pau há mais tempo, fazem do Sporting Clube Marinhense, na Marinha Grande, o palco para as primeiras aulas que marcam o regresso da “esgrima portuguesa” à região.
A vontade de recuperar a tradição nasceu do desafio da equipa Staffighters, de Cascais, que há uma década trabalha na divulgação e partilha desta arte.
“Porque o Jogo do Pau é uma técnica de combate eficaz que não fica atrás de nenhuma arte marcial estrangeira, em termos técnicos está ao nível dos outros e tem a grande força de ser a única arte marcial portuguesa”, defende Ricardo Moura, 43 anos.
Praticante há vários anos e fundador da equipa do distrito de Lisboa, explica que se pretende “manter a vertente tradicional e desenvolver a vertente competitiva com o mínimo de regras para manter o mais fiel possível a técnica, até bas- tante desenvolvida, que antigamente era usada pelo povo”.
Um conhecimento que é transmitido de professor para aluno e que pode estar em risco porque “os grupos que praticavam e ensinavam praticamente desapareceram ao longo das últimas décadas”.
“Antes da pandemia havia uns 12, mas com a Covid-19 o número diminuiu e a maior parte não está a treinar”, alerta.
A aposta em Leiria ganhou força por haver atletas interessados em aprender numa “região onde há tradição e história do Jogo do Pau, comprovada com fotografias e documentos que mostram que havia clubes a treinar mas, infelizmente, desapareceram todos”.
“Sabemos que a divulgação não vai ser fácil, porque nada é fácil no Jogo do Pau, mas estamos cá para isso”, conclui.