Uns têm aulas com imagem e som, outros apenas trocam mensagens num chat da plataforma da escola com professores e alunos. A autonomia permite a cada escola escolher o método que considera melhor para professores e alunos.
Fora do computador, milhares de estudantes, do 1.º ao 9.º anos, ainda podem assistir aos conteúdos do programa #EstudoEmCasa, a telescola do século XXI.
No Agrupamento de Escolas D. Dinis as aulas são por chat.
Numa ronda por estudantes de diferentes níveis de escolaridade constata-se que as aulas à distância são um mal necessário que “até está a correr bem”.
A aprendizagem não é igual à que conseguiriam fazer se estivessem cara a cara com o professor, mas permite-lhes não perder o comboio do programa.
Leonor Ponte acorda quase todos os dias pelas 9 horas. Levanta-se, veste-se e toma o pequeno-almoço. Tal e qual como faria se fosse para a escola. Mas, agora, dirige-se ao quarto, onde tem o computador e os livros. As aulas são leccionadas no seu “mini-escritório”, onde também estuda e faz os trabalhos. No 6.º ano do Agrupamento de Escolas de Pombal, Leonor garante que a “adaptação foi muito fácil”.
“Temos um plano semanal. Está tudo estruturado para as aulas síncronas, assíncronas e o #EstudoEmCasa”, conta.
À hora marcada, a aluna senta-se e prepara-se para assistir às aulas. “Quando queremos intervir metemos o dedo no ar e a professora manda-nos falar. Também podemos dar indicação no chat.”
Os professores enviam fichas por e-mail e o estudo através da televisão complementa todo o trabalho. A indisciplina, muitas vezes, habitual na escola, consegue-se ultrapassar na sala virtual.
“A minha turma é um bocado difícil. No início havia alguma confusão, mas agora estão todos mais calmos. Os professores até nos têm elogiado, referindo que estão muito contentes connosco e que estamos a trabalhar bem.” A ligação entre aluno e professor fortalece- se à distância, dentro do possível. “Eles estão sempre a perguntar como é que estamos e dizem que sentem saudades nossas. Eu também já tenho saudades de ir para a escola, dos professores e dos meus amigos.”
Lara Pereira frequenta o 6.º ano do Agrupamento de Escolas Caranguejeira-Santa Catarina da Serra. As aulas dividem-se em videochamada, trabalhos e #EstudoEmCasa. “Não temos dado muita matéria nova. A maior dificuldade é assistir às aulas de Inglês na televisão”, desabafa. Na escola, a professora fala em inglês e explica em português. Mas na televisão apenas a língua estrangeira é falada. Também Lara prefere as aulas presenciais e confessa já sentir saudades dos colegas e professores.
“Não gosto, mas tem de ser. Aprende-se melhor na escola, mas as aulas síncronas até correm bem. No início havia confusão, com todos a falarem ao mesmo tempo, mas agora não. Metemos o dedo no ar e o professor dá-nos a vez.”
Na Escola Secundária Afonso Lopes Vieira, os professores têm liberdade para dar as aulas com ou sem câmara ligada. “Alguns preferem que todos desliguemos a câmara. Há professores [uma minoria] que também desligam a deles e ouvimos a explicação sem imagem”, revela Laura Santos, aluna do 7.º ano.
As lições tentam ser o mais fiel ao que se passa numa sala de aula ‘normal’. “Por exemplo, o professor de Físico-Química tem um quadro interactivo e partilha- -o no ecrã. É quase como se estivéssemos nas aulas. Outros usam o powerpoint, vão mostrando e explicando, só que às vezes não aparece tudo no ecrã.”
O #EstudoEmCasa é opcional, mas os professores organizaram o horário, permitindo libertar os alunos para assistirem às aulas na televisão.
“Costumo assistir, mas em algumas disciplinas já dei a matéria que passa. Compreendo que seria difícil ajustar a todos. Dentro da situação está muito bem feito. Aproveito para consolidar a matéria.”
Para Laura, as aulas presenciais são mais produtivas e permitem tirar dúvidas mais facilmente, embora sublinhe que todos os professores têm mostrado disponibilidade para esclarecer os alunos. Além disso, “na escola há aulas e intervalos, o que permite o convívio entre todos”.
D. Dinis com aulas por chat
No Agrupamento de Escolas D. Dinis não há aulas por videochamada. O Conselho Pedagógico entendeu que não estavam garantidas as condições de protecção à imagem, explica o director, Jorge Camponês.
O horário dos alunos contempla aulas via chat, onde, em tempo real, professores e alunos podem tirar dúvidas e conversar. “Os alunos estão a aprender sozinhos. Os professores mandam ler determinadas páginas e realizar trabalhos, que os alunos têm de fazer sem apoio. Existe o chat para tirarem dúvidas, onde alguns professores nem aparecem”, lamenta Paulo Vieira.
Pai de um menino de 12 anos e de uma menina de 6, considera que este agrupamento “está parado no tempo” nesta situação. “É uma posição altamente retrógrada. O que me entristece é que a escola no centro da cidade é a mais atrasada. Há pais que receiam pela imagem dos filhos, mas podem desligar a câmara. Só os professores da D. Dinis é que têm uma concepção diferente da imagem? Todo o País fez um esforço para aderir às aulas por videochamada”, acrescenta.
Paulo Vieira sublinha ainda que o agrupamento está a esquecer o lado emocional dos jovens. “Os miúdos não são máquinas de aprendizagem. Precisam de acompanhamento emocional. Verem e ouvirem os colegas e os professores dá-lhes conforto. Vejo que a minha filha fica toda contente quando lhe transmitimos algum recado da professora. É o tal contacto de que necessitam.”
Sobre um eventual receio dos docentes relativamente ao que os alunos possam fazer com a sua imagem, este pai recorda: “todos temos telemóveis com câmara e podemos tirar uma fotografia na rua e até na escola sem o professor se aperceber.”
Jorge Camponês garante que as aulas síncronas estão a ser cumpridas sem som e imagem e que a questão educativa também está assegurada. “O ensino à distância é igual, mas sem recurso à imagem e som. A ligação à escola existe através de contactos que são feitos por e-mail e nas plataformas.”
Secundário vai à escola
Se as aulas no ensino básico e 10.º ano vão manter-se à distância este ano lectivo, os estudantes dos 11.º e 12.º anos devem regressar à escola no dia 18 de Maio, para prepararem os exames.
Beatriz Cunha frequenta o 12.º ano na Escola Secundária Raul Proença, Caldas da Rainha, e está ansiosa com tudo o que se está a passar. “Vou estar menos preparada para os exames. As aulas por videochamada são menos produtivas. Além dos problemas com a internet, antes tínhamos aulas de 90 minutos e agora são no máximo 45 minutos.”
Concordando que a solução “não sendo a ideal” é “boa”, Beatriz aguarda pelo regresso às aulas presenciais para uma melhor aprendizagem. “Vamos ter de usar máscara e as turmas serão divididas. Vai ser uma experiência a que não estamos habituados, o que nos vai deixar um pouco nervosos.”
“Conseguimos aprender, mas é totalmente diferente. Quando estamos em contacto físico com o professor compreendemos melhor a matéria. Não estamos a ser prejudicados, mas as aulas presenciais são melhores”, concorda Inês Anastácio, do 11.º ano do Agrupamento de Escolas da Nazaré.
Os professores procuram espelhar a sala de aula através do computador: “utilizam powerpoints ou escrevem num quadro e partilham o ecrã à medida que explicam. É como se estivéssemos nas aulas. Referindo que a motivação à distância torna-se mais difícil, Inês afirma que esta situação obriga os alunos a uma maior “disciplina e autonomia”.