O mercado automóvel voltou a crescer no ano passado, com as vendas de veículos novos a subirem quase 8%. Mas se há uns anos os carros a diesel lideravam, hoje os clientes procuram principalmente motores a gasolina, híbridos e eléctricos. Maiores restrições à circulação de veículos a gasóleo e aumento do preço deste combustível estão entre os motivos que contribuem para a mudança.
Só em 2009 a Porsche passou a ter veículos com motores diesel, para “acompanhar a tendência do mercado”. Uma aposta que se revelou “importante” em termos de vendas, nomeadamente em Portugal. Pedro Rodrigues, gerente do Centro Porsche Leiria, reconhece que no nosso País se viveu durante anos aquilo a que chama “dieselmania”.
Tendência que já está a mudar e que se sente tanto do lado dos clientes, que procuram cada vez mais os híbridos, como do lado da marca, que está a ajustar a oferta.
O Panamera, por exemplo, “deixou de ter motores diesel”, aponta. No ano passado, perto de 95% das vendas deste modelo foram da versão híbrida. “Nos últimos anos as coisas mudaram radicalmente. Neste momento, o grosso das vendas da marca são os híbridos. O cliente, muitíssimo mais informado, vem à procura desta motorização”, afirma o responsável.
Para Pedro Rodrigues, o facto de cada vez mais países estarem a adoptar restrições às circulação de veículos a diesel nas suas principais cidades e a diminuição da diferença de preços entre o gasóleo e a gasolina são dois dos motivos que contribuem para a perda de terreno dos carros a gasóleo.
Há ainda o aspecto cultural. “A aceitação social de um carro híbrido é muitíssimo maior. As pessoas começam a ter essa sensibilidade, em particular no segmentos em que nos posicionamos”.
Quanto ao carro do futuro, o gerente do Centro Porsche Leiria aponta três ideias-chave: eléctrico, conectado e autónomo. Até 2025, a marca alemã tenciona que 50% dos seus veículos sejam electrificados. A crescente digitalização e a forma como as novas gerações vêem o automóvel e o uso que dele deve ser feito também já estão a ter impactos, que deverão intensificar-se, considera.
Estas três ideias-chave são referidas igualmente por Nuno Roldão, administrador da Lubrigaz, concessionária das marcas Volkswagen, Audi e Skoda. A primeira já tem disponíveis veículos eléctricos (e-Golf e e-Up) e vai reforçar a oferta com novos modelos; a segunda tem híbridos plug in (A3 e-tron e Q7 e-tron) e vai igualmente lançar novos modelos eléctricos; e a Skoda vai lançar nos próximos cinco anos um modelo eléctrico.
Para já, assiste-se a uma “desaceleração do mercado de carros a diesel e a uma aceleração dos carros a gasolina”. Tendência que vai continuar, “devido às restrições ambientais” e ao facto de os carros a gasolina terem um preço cada vez mais competitivo.
Quanto aos híbridos e aos eléctricos, “a procura tem crescido”, até porque os benefícios fiscais de que os clientes podem usufruir “são uma vantagem”, diz Nuno Roldão.
Também José Vilarinho fala em “dieselmania” para referir a “grande aposta” que nos últimos anos ia para os carros a gasóleo. “Antigamente as pessoas queriam um carro a diesel porque sim, mesmo que em termos dos quilómetros a fazer não se justificasse”.
Neste momento a oferta e a procura deste produto estão em sentido “descendente”, enquanto as motorizações a gasolina têm evoluído. O gerente da Auto-Industrial, concessionária da Opel, aponta o exemplo do SUV Crossland, disponível a diesel e a gasolina, sendo que esta motorização representa 60% das vendas deste modelo.
Diz igualmente que o mercado está a caminhar para uma oferta cada vez maior de veículos híbridos e eléctricos. Também esta marca, que já tem um modelo eléctrico (Ampera) tenderá a alargar a aposta nesta alternativa. Para já, o preço dos carros eléctricos é ainda uma condicionante à sua aquisição, reconhece.
[LER_MAIS] Opinião partilhada por Luís Porém, administrador da Bomcar, concessionária BMW e Mini. “O preço dos eléctricos e dos híbridos ainda é um entrave. Mas no futuro, com o aumento da sua produção, os custos baixarão e os preços serão mais acessíveis”. Para já, os benefícios fiscais de que é possível usufruir “acabam por contrabalançar” o preço mais elevado, entende.
Também este profissional reconhece a tendência de maior evolução da gasolina face ao gasóleo, embora frise que os carros a diesel “não vão acabar”. Houve quebras nas vendas destes veículos? “Não é notório, porque o mercado cresceu. Não vendemos menos carros a gasóleo, vendemos foi mais híbridos”. Também nos eléctricos a empresa tem já “um mercado interessante”.
A BMW disponibiliza vários modelos híbridos (Série 2 Active Tourer, séries 3, 5 e 7 Berlina, X5 e i8); a Mini tem o Countryman. “Isto mostra que a mudança é uma realidade e que as marcas estão a apostar nas novas tendências”.
Carlos Santos, administrador da Lizauto (concessionária Renault e Dacia) e da Lizitália (concessionária Fiat, Alfa Romeu, Abarth e Jeep), afirma que a tendência preponderante é a aquisição de carros a gasolina nos segmentos mais baixos, e de carros a gasóleo nos mais altos.
“Se há uns anos toda a gente queria um carro a diesel, porque se justificava – o gasóleo era muito mais barato, os carros muito mais resistentes e havia de facto poupança quando se faziam determinados quilómetros por ano – hoje já não é assim. A diferença de preço do gasóleo não é tão grande e há cada vez mais limitações à circulação dos carros mais poluentes”, diz.
Todas as marcas representadas por estas duas empresas têm oferta de modelos híbridos e/ou eléctricos, mas a Renault “é a que mais tem apostado” nos eléctricos, cujas vendas “crescem sistematicamente”. Carlos Santos diz que os preços não têm sido um entrave. “Fazendo contas, facilmente se comprova a poupança”.
endas no distrito cresceram 9,7%
Os últimos dados da Associação do Comércio Automóvel de Portugal (ACAP) revelam que no ano passado (até Novembro) foram realizados no distrito de Leiria 7264 registos de propriedade de ligeiros de passageiros novos, número que representa um crescimento de 9,7% face aos 6621 do mesmo período de 2016.
Os dados da associação permitem ainda perceber que foi no concelho de Leiria que mais veículos novos se venderam: 2868 em 2017, contra os 2499 no ano anterior. Segue-se Alcobaça, com 1328 e 977, respectivamente. Caldas da Rainha surge em terceiro lugar, com 813 veículos, contra os 854 de 2016. A Marinha Grande ocupa o quarto lugar, já que neste concelho os registos de propriedade de ligeiros novos ascenderam no ano passado a 572, menos 79 do que em 2016.
No distrito, a marca mais vendida foi a Renault, com 1166 unidades, o que lhe confere uma quota de mercado de 16% na nossa região, ligeiramente acima dos 13,78% que detém a nível nacional. A marca vendeu em todo o País, entre Janeiro e Novembro do ano passado, 27082 unidades, o que lhe dá o primeiro lugar. Já em 2016 assim tinha sido, tanto a nível nacional como no distrito de Leiria.
No top três das marcas que mais venderam no ano passado na nossa região consta ainda a Mercedes-Benz, em segundo lugar (679 unidades) e a Peugeot (terceiro lugar, 604 unidades), de acordo com os dados da ACAP.