Uma “verdadeira gincana” é o que Eugénia Monteiro faz para movimentar o marido na cadeira de rodas, com a qual Fernando Monteiro, antigo jogador do Marrazes, se desloca há cerca de um ano.
As dificuldades começam no prédio onde vivem, no bairro dos Capuchos, em Leiria. Têm a “sorte” de residirem no rés-do-chão, mas há algumas escadas a vencer. A solução, conta Eugénia, passa por colocar a cadeira no passeio, à entrada do prédio, e depois amparar Fernando que, ainda consegue dar algumas passadas, até ao local. “Nem um corrimão temos”, denuncia.
Vencido o primeiro obstáculo, há depois as barreiras da via pública. “Há árvores no meio do passeio. Somos obrigados a circular pela estrada”, lamenta a munícipe, que refere também a “irregularidade” do piso dedicado aos peões, com constantes “armadilhas, mesmo até para quem tem mobilidade”.
Eugénia Monteiro identifica ainda a ausência de rampas nas passadeiras, que faltam “em todo o bairro”, com excepção da zona recentemente intervencionada no âmbito de uma nova urbanização. “Olhe, de um lado está a árvore, do outro o poste. É impossível passar no meio”, diz Eugénia, apontando para uma das zonas do passeio da rua Doutor António Tinoco, um trajecto que faz algumas vezes por semana, para que o marido possa ir à fisioterapia, e onde não existe passadeira.
Do outro lado da via, o passeio tem um buraco com mais de um metro de largura e quase dois de comprimento, aberto “há quase um mês” devido a uma avaria da rede de águas.
Para Eugénia Monteiro, acabar com estes obstáculos “não é um luxo, nem implicará um grande investimento, mas facilitaria muito a vida das pessoas”, não só a quem tem mobilidade reduzida, mas à generalidade dos cidadãos. “Uma mãe ou uma avó com um carrinho de bebé também sentem dificuldades”, alega, admitindo que os constrangimentos que sente acaba por condicionar a vida social do marido. “Podia sair mais vezes com ele, mas assim não consigo”, assume.
Sem se pronunciar sobre a situação específica dos Capuchos, a vereadora da Acção Social, Ana Valentim, refere que o município tem feito “muitas” intervenções no sentido de “minimizar a questão das barreiras arquitectónicas”, por vezes, a pedido dos cidadãos, mas também por solicitação das instituições que trabalham na área da deficiência.
“Pedimos que nos ajudem a identificar os maiores constrangimentos, para que, em articulação com a divisão de obras do município, possamos ir eliminando esses obstáculos”, refere a autarca, frisando que, em muitas situações, são intervenções “simples”, mas que “têm impacto na vida das pessoas”.
A título de exemplo, a vereadora recorda uma situação identificada num peddy paper promovido por uma instituição junto à Rodoviária. “Havia um lancil relativamente baixo, mas a verdade é que constatámos nessa iniciativa que uma cadeira de rodas tinha muitas dificuldades em ultrapassar o obstáculo. Foi uma coisa muito simples de resolver.”
Ana Valentim reconhece que, apesar do trabalho feito ao longo dos anos ao nível da eliminação das barreiras arquitectónicas na cidade e no concelho, ainda “há muito a fazer”. “É um trabalho contínuo”.