É a quarta edição do projecto, que transforma a Barrenta em cenário para exercícios de arte expostos ao ar livre. Este ano, inspiram-se nos 20 anos da estátua do Velho da Morada, uma lenda da aldeia. “Pedi a vários artistas para desenharem de forma livre. E fiz imprimir pósteres de vinil que coloquei em frente da estátua. São oito, no total”, descreve Tiago Martins. “Fiz também imprimir postais que dei aos residentes todos e que espalhei no Município de Porto de Mós: biblioteca, posto de turismo, Central das Artes”. De autores do Canadá, da Geórgia, de Itália e de outros países, reúnem diferentes estilos e linguagens, do minimalismo ao ambiente típico dos videojogos mais antigos. Um deles exibe cravos, referência aos 50 anos do 25 de Abril.
Desde o início, o número de criadores já ascende a mais de 60, de 30 países. E sobrevivem, na Barrenta, “umas 20 obras”, segundo Tiago Martins, pintadas directamente no lugar ou que resistem por incluírem materiais como a cerâmica. “É preciso andar à procura delas, algumas são gigantes e outras são pequenas e um pouco escondidas”. As restantes, “efémeras” e mais frágeis, “foram destruídas com o tempo e até comidas por caracóis”.
O luso-francês nascido em França, que vive em Paris, recebeu muitas obras directamente na caixa de correio de casa. “Para convidar os artistas, mandava mensagem através das redes sociais. Mandei milhares de mensagens”, explica ao JORNAL DE LEIRIA. “Tenho de admitir que estou surpreendido, porque é tudo de graça”.
Prémio europeu
Apesar da distância, o interesse de Tiago Martins pela Barrenta não é novo, pelo contrário. “Tenho um amor imenso pela terra onde nasceram os meus pais. Não sei explicar. É uma aldeia pequenina, mas cheia de charme, e faço o que posso para criar buzz e atrair pessoas para visitar e talvez investir”, assinala. “Desde jovem registei a Barrenta no Facebook, na Wikipédia, em blog, no Google Maps, no TripAdvisor e até no Geocaching! Já publiquei dois livros, um histórico-gastronómico e um para ensinar o português a crianças, e nos dois faço referência à Barrenta”. E o projecto Barrenta, Aldeia Artística, está “registado no site Atlas Obscura”.
Encaixada no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, no território da União das Freguesias de Alcaria e Alvados, a povoação é conhecida por acolher, anualmente, um dos maiores encontros nacionais de tocadores de concertina. Já Tiago Martins, que trabalha como engenheiro na área das energias fósseis, fundou anteriormente, no Instagram, a conta Portuguese Facts, actualmente com quase 16 mil seguidores. E, no ano passado, com o livro de gastronomia L’histoire du Portugal dans mon assiette, escrito em francês, venceu um dos prémios Gourmand Awards 2023. L’histoire du Portugal dans mon assiette junta centenas de anedotas e mais de 60 receitas de sopas, petiscos, pratos, sobremesas ou cocktails, cada uma da responsabilidade de um restaurante, produtor ou cozinheiro, entre eles, chefs mediáticos como Hélio Loureiro e Hernâni Ermida.
E um novo livro
Já em 2024, numa parceria com a ilustradora Romane Mendes, surge Vive Les Vacances!, um livro bilíngue com que as crianças podem aprender português de maneira divertida. Tiago Martins conclui: “Mesmo tendo nascido fora do país, não significa que não podemos ajudar a promover as nossas aldeias. Não somos só uns clichês de avec”.
