O futuro dos concertos para bebés está à porta e envolve câmaras, sensores, telemóveis, inteligência artificial e realidade aumentada. No final do espectáculo da companhia Musicalmente com a cantora e compositora Surma inicia-se a apresentação do projecto Amplify, com Paulo Lameiro a falar para os pais espalhados pelo palco do Teatro Miguel Franco, os primeiros a conhecer a iniciativa inovadora que através de tecnologias digitais pretende revolucionar as artes performativas com a primeira infância. “Os vossos bebés vão ter sensores no corpo”, adianta Paulo Lameiro. “Durante o concerto, o vosso bebé vai ouvir a música, vai reagir à música, e quando reagir à música, os sensores vão transformar as suas emoções numa partitura. Os músicos vão ter óculos virtuais e vão tocar a partitura que o vosso bebé vai fazer, ou seja, o bebé vai compor uma música em tempo real e o músico vai tocar a música que o bebé compõe”.
Abre-se, portanto, um novo paradigma na fruição da arte e o modelo ambiciona uma experiência mais participada, imersiva e multidireccional. “Para nós, num concerto, os bebés são os verdadeiros solistas, e, então, o que é que nós queremos? Dar mais protagonismo aos bebés”, conclui Paulo Lameiro. “Na verdade, nós vamos ter inteligência artificial mas a ideia é que possamos estar de forma mais intensa com os nossos bebés”.
O último domingo, 3 de Novembro, marcou o arranque oficial do consórcio europeu que espera mostrar resultados, com aplicação ao vivo, em menos de três anos, já em Junho de 2027, no contexto de um festival a realizar em Leiria.
“A noção de cacofonia e de obra musical, temos de a repensar. Também por isso, o objecto sonoro que vai resultar desta ferramenta é perturbador”, reconhece Paulo Lameiro, que fala de “improviso”, de “um conceito diferente de performance” e de “um conceito diferente de partitura”. No entanto, “se há público preparado é este”, acredita o musicólogo e pedagogo, que esteve na génese do Berço das Artes em 1992 e dos concertos para bebés em 1998.
Uma segunda dimensão do Amplify – projecto que precipitou a fundação da Cooperativa Paulo Lameiro em Janeiro deste ano – é a ligação com quem está fora da sala de espectáculos. “Tecnologia que permite aos avós que estão em casa ver o seu bebé no concerto a reagir àquilo que está a acontecer”, antecipa Paulo Lameiro. “O avô lá em casa vai comandar o input para a partitura que o músico vai tocar” e “o músico pode tocar em palco aquilo que o avô quiser dizer ao seu neto”.
Há, ainda, uma terceira vertente, pensada para dispositivos móveis. “As mães cantam e brincam para os seus bebés e os bebés também respondem”, explica Paulo Lameiro. “Vamos desenvolver uma aplicação que vai permitir o bebé ouvir a canção de embalar da mãe – ou do pai ou da avó – e a seguir, a aplicação, em vez de oferecer uma partitura para os músicos, vai oferecer uma música para a mãe cantar. Quer dizer que a reacção do bebé vai transformar-se numa música”.
Nos próximos meses e anos, estão previstos laboratórios e testes, em Leiria e noutras localizações, em Portugal e no estrangeiro. Há desafios e riscos – questões éticas relacionadas com os direitos dos bebés, por exemplo – e a equipa inclui uma profissional da área da psicologia.