Três pisos subterrâneos do antigo Paço Episcopal escondem o investimento que traz visibilidade ao sector da cultura. Onde em tempos funcionaram salas de cinema, há muito encerradas, a nova Black Box é um laboratório para a experimentação e a criação artística – uma espécie de incubadora ou maternidade, vocacionada para acolher, durante semanas ou mesmo meses, todo o esforço intelectual e físico que antecede o momento da apresentação ao público – e no Município de Leiria acredita-se que a dinâmica da Black Box vai alterar o ritmo da cidade. Condições iguais, talvez só em Lisboa, Porto e Braga, ouve-se durante a visita com o JORNAL DE LEIRIA, na terça-feira, último dia antes da inauguração, que se realizou ontem, 22 de Maio, feriado municipal. Nos próximos dias, e até domingo, 26 de Maio, vale o convite à população para conhecer o espaço através de um programa especial com mais de uma dezena de actividades.
O acesso faz-se pela Rua Almeida Garret nas traseiras do edifício em que se encontra instalada a Loja do Cidadão e a abertura acontece com oito meses de atraso face ao prazo inicialmente previsto no contrato, com a obra, começada em Setembro de 2022, a prolongar-se por 20 meses, em vez de um ano.
É no piso -3 que se descobrem os 200 metros quadrados da Black Box, que permite diferentes configurações e oferece mais e melhores equipamentos de luz e de som do que, por exemplo, o Teatro José Lúcio da Silva ou o Teatro Miguel Franco. A plateia retráctil acomoda até 110 espectadores sentados e recolhe parcialmente ou totalmente. Com lugares em pé, a lotação da Black Box sobe para algumas centenas de pessoas. Há ainda uma sala de ensaios com 120 metros quadrados (no piso -2) e vários camarins, áreas de régie, zonas técnicas e de arrumos, um gabinete e um bar (no piso -3) capaz de servir de cenário a lançamentos, tertúlias e outros eventos de menor dimensão.
Associações e programadores
No total, 1.931 metros quadrados, distribuídos por três níveis, um milhão e meio de euros aplicados pela autarquia com apoio de fundos comunitários da União Europeia. “Visa contribuir para a qualificação das nossas associações, programadores e tecido cultural, nomeadamente quanto ao estabelecimento de parcerias através de redes, projectos colaborativos e sinergias”, comenta a vereadora da Cultura, Anabela Graça, numa resposta por escrito enviada ao JORNAL DE LEIRIA. “Claramente um papel de qualificação, de estímulo da criatividade dos agentes, de aposta numa visão transdisciplinar das artes e da cultura, num equipamento dotado de excelentes condições técnicas, localizado no centro da cidade. Consubstancia uma forma relevante de aproximação de expressões culturais e educativas à comunidade local capaz de potenciar a pluralidade cultural e artística da cidade e da região”.
Aprovada numa reunião do executivo em Fevereiro de 2022, a plataforma para as artes performativas, onde cabem, também, o cinema, o vídeo e a fotografia, a literatura ou as artes plásticas, tem como prioridade abrigar processos de criação e co-criação, com características, até, de estúdio de gravação. Mas pode receber programação e funcionar como sala de espectáculos. A gestão cabe ao município, através da divisão de Acção Cultural e do Teatro José Lúcio da Silva. De acordo com o regulamento já aprovado, a cada artista ou estrutura é dada a possibilidade de requisitar gratuitamente a Black Box por períodos até cinco meses no formato de residência artística ou mediante outros modelos de trabalho. E já há três pedidos. Os critérios de análise das candidaturas consideram a qualidade artística e conceptual e os eixos de intervenção definidos no Plano Estratégico Municipal da Cultura para o Concelho de Leiria. Como contrapartida, a estreia terá de ocorrer em Leiria, na Black Box ou noutro local. Existe, por outro lado, por parte da Câmara, o objectivo de integrar a Black Box em parcerias com outras cidades criativas Unesco na região centro, de procurar financiamento da União Europeia para alavancar a actividade e de utilizar a Black Box para fomentar intercâmbios internacionais.
Concerto de João Gil e agenda até domingo
De 23 a 26 de Maio, o programa inaugural da Black Box é aberto ao público e, segundo o município, prevê 11 actividades, em que se incluem uma aula de jazz, dança com a escola de Clara Leão, música coral dirigida por Jorge Narciso, teatro pela companhia Libélula, concerto da banda Rua Direita, entre outros momentos.
A agenda de arranque da Black Box divulgada pela Câmara Municipal de Leiria contemplava ainda, para ontem à noite, 22 de Maio, um concerto do músico João Gil, antigo membro dos Trovante.