A história de cada um tem voltas por vezes inexplicáveis. André Pedrosa, 34 anos, o bombeiro de Monte Redondo falecido ontem, tinha sido pai nos últimos dias. E a situação não é nova na família. Ele próprio cresceu sem pai: morreu-lhe quando tinha apenas meses de idade.
“O Corpo de Bombeiros Voluntários de Leiria chora a perda de um grande Homem, de um grande Bombeiro que honrou com valentia, coragem e humildade a farda e a missão que abraçou”, lê-se no comunicado divulgado este domingo pela associação humanitária.
Morte “repentina e inesperada”, lamenta a presidente da União das Freguesias de Monte Redondo e Carreira, Celine Gaspar, que fala de um amigo e familiar “muito querido por todos”.
Filipe André Azinheiro Pedrosa, bombeiro do corpo dos Bombeiros Voluntários de Leiria – Secção de Monte Redondo, faleceu, tudo indica, vítima de doença súbita.
Este sábado, 18 de Julho, perdeu os sentidos cerca das 19:50 horas, quando se encontrava a participar na operação de vigilância a um incêndio florestal em Vale Maior, na União das Freguesias de Santa Catarina da Serra e Chainça.
O óbito foi declarado às 21:15 horas no Centro Hospitalar de Leiria.
Segundo Hugo Fernandes, cunhado, André Pedrosa “tinha feito exames recentemente”, por rotina e prevenção, que nada detectaram. O pai morreu também muito novo, “com problemas cardíacos”.
Fonte dos Bombeiros Voluntários de Leiria disse ao JORNAL DE LEIRIA que os elementos da corporação são regularmente sujeitos a exames médicos e provas físicas, o que era o caso de André Pedrosa, que trabalhava numa empresa do sector da construção.
Para o comandante distrital de operações de socorro de Leiria, Carlos Guerra, as causas da morte de André Pedrosa “parecem claras” e não estão relacionadas com as circunstâncias do incêndio nem com eventual cansaço extremo, mas, sim, com um quadro de “doença súbita”.
“Vamos aguardar serenamente os resultados da autópsia”, refere, antes de acrescentar: “Tudo o que pudermos aprender para que isto não se repita é bom”.
No quadro activo dos Bombeiros Voluntários de Leiria desde 2004, André Pedrosa enfrentou há poucos anos, em Oleiros, o combate a incêndio mais complicado, em que sofreu queimaduras ligeiras.
De acordo com o cunhado, Hugo Fernandes, André “tornou-se bombeiro por convicção própria”.
André Pedrosa vivia no lugar onde cresceu, Pinheiro, Monte Redondo, com a mãe e a companheira. E ser bombeiro “fazia parte do carácter dele”, confirma a autarca Celine Gaspar.
“Era superdisponível” e “muito bem-disposto”, descreve ao JORNAL DE LEIRIA.
Presidente da República e Primeiro-Ministro manifestam pesar
Por telefone, o Presidente da República falou com a família do bombeiro André Pedrosa e, segundo a nota divulgada pela Presidência da República, dirigiu “os mais sentidos pêsames à Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Leiria, aos seus familiares e amigos”.
“Infelizmente”, pode ler-se, “a notícia da morte do Bombeiro do Corpo de Voluntários de Leiria, vítima de doença súbita enquanto cumpria a sua missão em operações de rescaldo e vigilância, causou profunda consternação, evidenciando as grandes exigências por que passam todos estes Homens e Mulheres que arriscam diariamente as suas vidas pela vida do próximo”.
O primeiro-ministro, António Costa, manifestou a sua “profunda consternação”.
“Uma fatalidade que nos entristece”, acrescentou o chefe do Governo, em nota oficial, enviando à família e amigos, bem como à corporação dos Bombeiros Voluntários de Leiria, os seus sentimentos e de todo o Governo.
Também o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, manifestou pesar e profunda consternação pela morte de André Pedrosa.
“Neste momento de pesar para todos os portugueses relembro, com gratidão, a forma sempre generosa e abnegada com que os bombeiros do nosso País integram este esforço nacional da defesa da floresta contra incêndios”, sublinha o comunicado do MAI.
Três dias de luto municipal
Esta manhã, a Câmara Municipal de Leiria decretou três dias de luto municipal, com colocação da bandeira do Município a meia haste.
“O Município de Leiria associa-se ao luto e à dor sentida pela família e amigos, lamentando profundamente a morte de Filipe André Azinheiro Pedrosa, que dava o melhor de si pela defesa de todos ao serviço dos Bombeiros. O Município de Leiria endereça também uma palavra de ânimo e solidariedade aos Bombeiros Voluntários de Leiria neste momento particularmente difícil”, fez divulgar a autarquia.
Segundo o texto enviado à comunicação social, “o alerta foi dado às 19:50 de sábado, tendo André Pedrosa sido assistido de imediato pelos bombeiros que se encontravam na sua companhia e posteriormente pela Cruz Vermelha e INEM, acabando por ser transportado para o Centro Hospitalar de Leiria, onde acabaria por ser declarado o óbito às 21:15”.
Bombeiros não esquecem família
Na nota libertada já hoje, assinada pelo comandante Miguel Ribeiro e pelo presidente da direcção, Jorge Baptista, os Bombeiros Voluntários de Leiria sublinham que os sentimentos “estão com a família do André, com os nossos Bombeiros e, também, com as suas famílias”.
“Mas, como Bombeiros Voluntários que somos, Nobres e Diferentes, tal como a Fénix que renasce das cinzas, também os nossos bombeiros vão superar este momento e o Comando e a Direcção dos Bombeiros Voluntários de Leiria estão, e estarão sempre, a apoiar a família do André e os nossos Bombeiros. O André nasceu connosco e morreu connosco. Descansa em paz!”, conclui a mensagem.
Freguesia com mãe e irmã
A União de Freguesias de Monte Redondo e Carreira também se associou à dor sentida por todos os que conheciam André Pedrosa, de forma oficial: “Neste momento de grande transtorno para toda a comunidade deixamos uma palavra de afecto à sua mãe, à sua irmã e à sua companheira. Desejamos que junto da família e amigos encontrem o conforto possível para suportar tamanha dor. Uma palavra de apreço a todos os Bombeiros Voluntários de Leiria – Monte Redondo que neste momento atravessam um período de grande dor pela perda de um amigo e um camarada”.