Na óptica da indústria, os 10 concelhos que formam a Região de Leiria apresentam um risco médio alto de exposição aos efeitos do Brexit, ou seja, estão num terceiro nível de ameaça, menos expostos do que regiões com risco elevado e muito elevado, mas mais expostos do que regiões com risco médio, de acordo com um estudo da CIP – Confederação Empresarial de Portugal.
Em 2017, o Reino Unido foi o quarto cliente além fronteiras dos bens com origem no distrito de Leiria, comprando 122,4 milhões de euros, ou seja, 5,6% do valor total exportado.
"Brexit: empresários de Leiria já estão à procura de mercados alternativos"
O Governo português pretende divulgar ainda em Janeiro o plano de contingência para o cenário de um Brexit sem acordo e está também a preparar o dia seguinte a uma saída ordenada – em qualquer caso, com a lógica de prolongar, nos primeiros meses, o estado actual da circulação de pessoas, transportes e serviços financeiros básicos.
Quem já fez as contas ao impacto do divórcio entre o Reino Unido e a União Europeia foi a CIP: no horizonte do período de transição, fruto da contracção prevista para a economia britânica, o relatório admite um recuo das exportações portuguesas para o Reino Unido entre -1,1% e -4,5%, dos fluxos de investimento directo estrangeiro em Portugal com origem no Reino Unido entre -0,5% e -1,9% e das remessas de emigrantes enviadas do Reino Unido para Portugal entre -0,8% e -3,2%.
Mas, a médio e longo prazo, a alteração do quadro de relacionamento entre o Reino Unido e a União Europeia “encerra um risco forte” para as exportações portuguesas de bens e serviços, “que pode resultar em reduções potenciais das exportações globais entre 15% e 26%”, dependendo do que vier a ser estabelecido, lê-se no documento sobre as consequências do Brexit para a economia e para as empresas portuguesas, elaborado com a consultoria e assistência técnica da Ernst & Young e da Augusto Mateus & Associados.
As muitas incógnitas no caminho – desde a aprovação do acordo pelo parlamento britânico, que continua pendente, até à natureza do mesmo e eventual repetição do referendo – dificultam as projecções e fertilizam a incerteza.
Quanto à factura, “o Brexit é e será sempre um jogo de soma zero”, considera o economista Augusto Mateus, citado na apresentação do estudo da CIP, em Setembro. Todos perdem, resta saber quanto.
A desvalorização da libra esterlina, provocada pela vitória do “sim” em 2016, é o primeiro sintoma da constipação que os analistas antecipam, com contágio inevitável de outros países, incluindo Portugal. É certo que o Brexit vai mexer com o mercado de capitais e com os fluxos financeiros e implica custos a suportar pela economia. Nomeadamente, os que estão relacionados com fronteiras e barreiras administrativas.
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As estatísticas mostram que o Reino Unido é hoje o primeiro mercado de destino das exportações portuguesas de serviços e o quarto destino das exportações de bens. É também o quarto país com mais investimento directo em Portugal e o terceiro de onde chegam mais remessas de emigrantes. E há ainda o turismo: em 2016 viajaram 2 milhões de britânicos até Portugal, que pagaram 9,5 milhões de noites, números que representam 21% dos hóspedes e 28% das dormidas em estabelecimentos hoteleiros.
De acordo com a CIP, os produtos com maior grau de risco associado ao Brexit são produtos informáticos, electrónicos e ópticos; equipamento eléctrico; veículos automóveis, reboques e semi-reboques. Depois, num segundo patamar, ainda com risco médio alto, produtos alimentares; bebidas; tabaco; têxteis; vestuário; couro e afins; papel e cartão; produtos farmacêuticos; artigos de borracha e matérias plásticas; outros produtos minerais não metálicos; metais de base; produtos metálicos transformados; máquinas e equipamentos; e mobiliário.
A ameaça para as empresas que exportam para o Reino Unido tem sobretudo a ver com a potencial perda de competitividade pelo preço e com o risco de outros fornecedores de fora da União Europeia ganharem quota de mercado em detrimento das exportações portuguesas.
Mas a CIP salienta que há estratégias para atenuar os impactos negativos e aproveitar oportunidades: por um lado, fazendo valer a relação histórica com o Reino Unido, por outro, explorando novas formas de segmentação e espacialização das cadeias de abastecimento e de valor.
Segundo cálculos do Instituto Nacional de Estatística, uma redução uniforme de 10% das exportações portuguesas de bens e serviços para o Reino Unido traduz-se numa diminuição de 0,26% do Produto Interno Bruto (PIB) português.
De acordo com a CIP, a generalidade dos estudos coloca Portugal numa segunda linha de países potencialmente mais afectados pelo Brexit.
As maiores reservas ao que está pela frente prendem- se com o pessimismo de instituições como o Banco de Inglaterra e o próprio governo de Theresa May, que admitem grandes prejuízos para a economia britânica nos próximos anos, com aumento do desemprego, subida da inflacção e diminuição do PIB. Os maiores perigos advêm de uma saída desordeira, ou seja, sem acordo, o chamado hard Brexit.
Brexit
O que é? O termo é utilizado para referir a saída do Reino Unido da União Europeia. Resulta da junção das iniciais de Britain – Reino Unido –, BR, e a palavra Exit – saída: BRExit;
Quando será? A saída do Reino Unido da família de Estados-membros da União Europeia está marcado para o dia 29 de Março, após o cumprimento das cláusulas estipuladas pelo artigo 50.º do Tratado de Lisboa, e será uma das datas e eventos mais importantes do ano de 2019;
O que o originou? Num referendo realizado a 23 Junho de 2016, 51,9% dos eleitores votaram pela saída da comunidade europeia, à qual pertencem desde 1973. Desde então, muitos dos argumentos para a saída foram provadas como falsos, mas o Governo britânico resolveu levar até ao fim o procedimento de saída da UE;
Quando será votado o acordo com a União Europeia? O Parlamento britânico irá votar o acordo assinado com os restantes 27 Estados-membros da UE. Caso não seja aceite, o Reino Unido terá de se preparar para o chamado “hard Brexit”, isto é, sem quaisquer acordos comerciais e de cooperação com o seu maior parceiro comercial, que é a UE. Tanto empresas como cidadãos ficarão em suspenso até que novos acordos sejam negociados com os países europeus, um a um. Do lado dos 27, também haverá consequências, nomeadamente, com a protecção dos seus cidadãos e com as exportações destinadas ao Reino Unido.
JSD