O senhor Alberto vai todos os dias ao ginásio. Acho que é assim que ele se chama. E acho mesmo que vai. Ele diz que sim, sempre que o encontro por lá. E eu só tenho de acreditar. Ele não mente, não tem cara de mentir. Tem cara de lá ir – ou de dizer verdade quando diz que vai. É simpático, está sempre com um sorriso naquela cara bochechuda e pequenina daquele corpo bochechudo e pequenino também.
E anda pelas máquinas a experimentar uma e outra, sempre a sorrir e com os olhos pequeninos, de toalha ao ombro e olhar fisgado numa ou noutra conversa que lhe apareçam à frente. Eu acho que ele só vai ao ginásio para poder estar rodeado de gente e de conversas. Na sua horta, que diz que é pequenita, mas com tomates, romãs e batatas, deve sentir-se sozinho. Fala para ninguém.
Ali, no ginásio, ainda encontra alguém. Muita gente, até. E ele lá manda uma laracha daquelas que são o que ele é, do estado do tempo ou do cá estamos, tem de ser, cá se vai andando. E nós todos estamos, temos de ser, cá vamos andando. Com ele. Dá-me sorriso olhar o senhor Alberto.
Está lá sempre de manhã. Por entre musculados e delineadas, a olhar para um lado, a olhar para o outro, como se estivesse a ver um filme de que gostasse muito e que o levasse às nuvens – qualquer coisa assim muito poética para a visão que tenho de um velhote, ainda não muito velhote, num lugar que não é o seu, a apreciar o que não tem, o que o rodeia.
Só gente linda, nada de gente feia. E ele faz parte daquele lugar. Mesmo não lhe pertencendo, é lá que ele deve estar. E é lá que ele faz os seus exercícios de braços, de pernas, de tronco, de cabeça – de imaginação, talvez melhor dizendo. Ele trabalha o coração, e eu vou vendo.
O senhor Alberto vai ali só para estar, só para ver e só para falar. Ser ginásio é irrelevante. Poderia ser um talho ou um jardim. Mas sei que tudo é bastante, e que o senhor Alberto também olha para mim. E fala comigo vulgar, como se tudo fosse importante, e o mais importante fosse estar.