No segundo trimestre deste ano venderam-se em Portugal 42.590 alojamentos familiares, número que traduz um decréscimo de 2,8% face ao trimestre anterior, de acordo com os dados da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal.
Para o presidente da APEMIP, este “ligeiro arrefecimento não é uma surpresa” e deve-se sobretudo ao facto de haver poucas casas no mercado.
Cenário semelhante regista-se em Leiria e Marinha Grande. “Depois de dois anos e meio em roda livre, o mercado desacelerou um bocadinho, como era de esperar”, aponta Nuno Serrano.
O responsável pela Predial Leiriense adianta que em Leiria “não há muito produto disponível” e que o existente – sobretudo no centro da cidade – não é para todas as bolsas.
“Como nos últimos anos praticamente deixou de se construir, não há oferta para aquele cliente que pode comprar uma casa na ordem dos 150 mil euros”.
Por outro lado, os investidores continuam a apostar na compra de habitação para recuperar e colocar no mercado de arrendamento, porque também neste segmento a oferta é inferior à procura. “Encontram-se T1 a 400 euros, mas não a 280, e fazem falta”.
Também Nuno Fabião frisa o facto de muitas empresas de construção terem abandonado a actividade aquando da crise, o que significa que actualmente quem quiser edificar um prédio “não tem quem o faça”.
“O problema em Leiria é que há pouco produto para a classe média e média baixa. Está tudo a segmentar-se na média alta e na alta”.
O responsável da Twelvesquare diz que o pico da procura de casas para comprar foi no ano passado, mas que as vendas continuam a “ritmo normal”. “O primeiro semestre deste ano foi igual ao de 2018”.
Quanto ao desajuste dos preços, que de o presidente da APEMIP fala (ver caixa), o profissional de Leiria lembra que quando há pouca oferta e muita procura os preços sobem. “Se estivessem inflaccionados as casas não se vendiam e os preços teriam de baixar. Mas estão a vender-se”.
Também Mário Matos refere que em Leiria não há oferta para o segmento médio e médio-baixo, onde e procura “é muita”. Por outro lado, existe oferta de produtos de “qualidade superior”, a preços que variam entre os 200 mil e os 300 mil euros, oferta esta que a médio prazo poderá mesmo “exceder a procura”.
O responsável pela IMA adianta que também na Marinha Grande a oferta é escassa, sobretudo para a classe média alta. Há muita procura por apartamentos novos na ordem dos 140 mil euros, mas também aqui a oferta é pouca.
O mesmo se passa no que toca aos usados, já que há muitos investidores a comprar para colocar no mercado de arrendamento, que está “muito atractivo”.
Mário Matos diz que as zonas balneares – Pedra do Ouro, Vieira e mesmo Pedrógão – são cada vez mais procuradas por pessoas que, não encontrando habitação nas cidades, optam por viver em permanências nas praias.
[LER_MAIS] Tendência que o mediador entende que se acentuará com a mobilidade permitida pelos veículos eléctricos. Com uma vantagem, na sua opinião: os proprietários poderão sempre rentabilizar a habitação arrendando-a na época balnear.
Estefânio Martins reconhece que em Leiria está a ser construída habitação para a classe média alta, mas para a média baixa “não há oferta”. A procura “tem sido muito boa”, diz o responsável da Petrodomus, que também actua na Marinha Grande, cidade onde “não há nada” em termos de oferta. “Tudo o que está em construção está praticamente vendido”.
“Cobre ao preço do ouro”
“Há muitos proprietários que têm à venda cobre ao preço do ouro, convencidos de que tudo se vende, mas não é bem assim. Os potenciais compradores, mesmo os estrangeiros, começam a ser mais cautelosos e a pensar duas vezes antes de avançar com o negócio. Há que haver algum realismo e ajustar os preços à realidade do mercado e do activo que se tem em carteira”, alerta Luís Lima.
O presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal lembra que tal só acontece porque há falta de casas no mercado. “É cada vez mais gritante a necessidade de introduzir stock novo, dirigido para as classes média e média-baixa. Só assim se poderá aliviar preços e dar resposta às necessidades da procura. E não adianta dizer que há muitas casas vazias se estas se localizam onde não há procura”.
O ligeiro arrefecimento do mercado deve-se sobretudo à diminuição do stock disponível. “Há poucas casas no mercado, e muitas das que existem não correspondem às necessidades e possibilidades das famílias portuguesas”, sustenta o representante das imobiliárias.