Cinco mães, cinco crianças e uma grávida ocupam neste momento o apartamento T3 do Centro de Apoio à Vida (CAV) A Cegonha, em Pombal. É ali que procuram apoio quando todos lhes falharam. Aprendem a cuidar de si e a ser mães, adquirindo competências para conseguirem voar sem ‘muletas’.
Sob a responsabilidade da APEPI – Associação de Pais e Educadores para a Infância, o CAV é uma resposta social, sobretudo, destinada a jovens grávidas ou mães sem enquadramento familiar e que se encontrem em situação de risco emocional e social.
“Acolhemos grávidas e puérperas, a quem pretendemos dar ou reforçar as competências sociais e profissionais. Algumas ainda estão em idade escolar e frequentam a escola. Se não tiverem uma formação específica encaminhamo-las para cursos para que possam entrar no mercado de trabalho”, adianta Teresa Silva, presidente da APEPI.
O objectivo é saírem do CAV com condições para ter um emprego e capacidade para educar e cuidar de si e dos seus filhos. Foi o caso de Filipa (nome fictício). Natural da margem Sul, engravidou aos 16 anos. Tinha consciência que o pai da criança não lhe iria proporcionar o futuro que desejava para si e para o seu filho.
Sofreu violência doméstica e depois de apresentar queixa foi encaminhada para o CAV de Pombal. Durante um ano e meio partilhou o apartamento com outras jovens em situações idênticas.
“Torna-se fácil o convívio quando não se está contrariada e se sabe que é uma situação transitória. Terminei o 9.º ano e consegui arranjar emprego. Só saí depois de ter todas as condições, inclusive uma casa mobilada”, conta Filipa.
Fixou-se em Pombal e constituiu família. Aos 33 anos, tem agora três filhos: 16, 10 e 2 anos. “Sinto que estou no sítio certo. Estas respostas são importantes e tive todo o apoio que necessitava. Na altura, pode-se pensar que as regras são rígidas e ter dificuldade em aceitá-las, mas aprendem-se coisas fundamentais”, salienta.
Mais importante ainda foi a família da APEPI que ganhou. Com a voz embargada, Filipa destaca a importância que as responsáveis da instituição e todas as técnicas tiveram no seu percurso até hoje, revelando que se tornaram a sua família, até porque está longe dos seus entes de sangue.
“Estão sempre ao meu lado. A amizade ficou para sempre e os laços perduram até hoje”, reforça.
Criado em 2006, o CAV de Pombal já deu resposta a 256 mães e filhos. Surgiu para “dar resposta a muitas situações de gravidez na adolescência” que existiam na região, até porque as raparigas não estavam preparadas para cuidar de si enquanto grávidas e ainda menos com as crianças.
“Havia necessidade de dar uma resposta a nível da comunidade, porque estas jovens precisam de ser integradas na sociedade”, afirma Teresa Silva. Por vezes, estas situações são sinalizadas em consultas de gravidez, pela Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (se forem menores) ou do tribunal, que faz o diagnóstico do caso. O encaminhamento é feito para a instituição que tiver vaga.
A legislação prevê que possam manter-se na casa entre seis meses a um ano, mas a aquisição de competências e a estruturação da família nem sempre acompanha o mesmo tempo, pelo que é possível estender o prazo. As mães só saem quando têm capacidade para o fazer ou por iniciativa própria, se forem maiores de idade.
O CAV de Pombal dá resposta aos pedidos de todo o País, mas o difícil é ter vaga. “Temos muitos pedidos de integração de jovens, mas não temos capacidade”, lamenta Teresa Silva.
O grande objectivo da instituição é encontrar um espaço maior para proporcionar maior privacidade às utentes, já que seis partilham três quartos, com os filhos. “Não será para aumentar a capacidade, pois não funciona com mais do que seis mães, mas seria importante dar um quarto a cada uma”, afirma Sofia Seabra, directora de serviços.
A presidente da APEPI alerta ainda para a importância desta resposta no tráfico humano, com aliciamento de jovens com promessas de emprego no estrangeiro. “Estão muito mais vulneráveis a essas situações”, refere, ao revelar que são várias as situações de mulheres ilegais que lhes chegam. Neste momento, estão a viver duas mulheres africanas nessa situação.
“Temos de tratar de todo o processo de legalização, até para que os bebés possam receber as prestações sociais e mães e filhos terem acesso a cuidados médicos gratuitos.
“Nem todos os casos foram de sucesso e nem todos os bebés ficam com as mães. A criança pode ser entregue para adopção”, esclarece Sofia Seabra.