Tomam menos medicamentos, caminham melhor, ganharam gosto pela vida e sentem hoje menos dores, reduzindo ou eliminando a toma de anti-inflamatórios. Estes foram alguns dos benefícios que os idosos que integraram o projecto Centro Educativo para Seniores do AGEING@LAB – Laboratório Internacional de Estudos sobre o Envelhecimento alcançaram durante um ano de actividades diárias.
Ricardo Pocinho, responsável pela iniciativa, revela que o projecto piloto iniciado em Janeiro do ano passado reduziu a solidão em cerca de 60% e a toma de medicamentos dos idosos em 57%.
“Há um ano era mais de 60% e hoje o número é muito inferior a zero vírgula qualquer coisa. Podemos dizer que não há sentimento de solidão e atrasámos a institucionalização destas pessoas. Conhecemos pessoas que tinham crises de ansiedade recorrentes, pânicos, medos e que hoje referem não as ter”, afirma o também presidente da Associação Nacional de Gerontologia Social (ANGS).
O docente do Politécnico de Leiria e responsável do AGEING@LAB – Laboratório Internacional de Estudos sobre o Envelhecimento acrescenta que nas 30 pessoas que iniciaram o projecto, foram identificadas 19 com sintomas de ansiedade e depressão. Um ano depois apenas três manifestaram ansiedade e uma sintomatologia depressiva.
Numa parceria entre a ANGS, o Politécnico de Leiria e o Município de Pombal, o Centro Educativo para Seniores começou por avaliar 30 idosos não institucionalizados ao nível sociodemográfico ao nível físico, psicológico e social. No final de 2023 as actividades já eram desenvolvidas junto de 120 participantes. Número que pode chegar aos 500 com a extensão do projecto a mais pessoas da cidade e a mais freguesias do concelho de Pombal.
“Avaliámos a qualidade de vida, do sono, a toma de medicação e o peso. Mas também avaliámos outras coisas, como a dor, o equilíbrio, o risco de queda, a fragilidade psicológica, de saúde ou física e social”, conta Ricardo Pocinho, ao aferir que os resultados são “verdadeiramente impressionantes, onde se destaca a melhoria da qualidade do sono, sobretudo o sono reparador de descanso, e ausência de dores na totalidade das pessoas ao nível que eram conhecidas há um ano”.
Para Ricardo Pocinho, a validação científica que dos resultados de um ano de projecto evidencia que o caminho para melhorar o bem-estar dos idosos é este. “Temos pessoas que dormem melhor, que são mais felizes, menos deprimidas, que tomam menos medicação e que recorrem menos a serviços de saúde. Recuperámos sorrisos”, sublinha, ao destacar que não fazem milagres, mas tratam “as pessoas até ao final dos seus dias”.
Diariamente os idosos frequentam oficinas de escrita criativa ou de alfabetização, oficinas de estímulos cognitivo, físico e pelas artes, adaptadas às características de cada pessoa. As pessoas passaram a ter mais vontade de sair de casa, de participar em momentos que antes não faziam. “Coisas tão simples como ir ao café ou almoçar fora.”
O presidente da ANGS revela ainda que se vão candidatar ao Portugal Inovação Social para alargar o projecto ao território das Terras de Sicó, que poderá abranger ainda os concelhos de Alvaiázere, Ansião (distrito de Leiria), Condeixa, Penela e Soure (distrito de Coimbra), num universo entre duas a três mil pessoas.