A modernização do regadio do Vale do Lis, cujo concurso público foi aberto na semana passada, vai “revolucionar” o uso da água para rega neste perímetro hidroagrícola, permitindo uma redução dos consumos e o aproveitamento dos residuais provenientes da ETAR Norte na agricultura. Quem o diz é Henrique Damásio, administrador-delegado da Associação de Regantes e Beneficiários do Vale do Lis, que considera que o investimento agora previsto, a rondar os 2,8 milhões de euros, “peca por tardio”.
“O sistema actual foi construído para 50 anos e já tem mais de 70, apresentando uma série de problemas que não se compadecem com a poupança de água. Há muito desperdício”, admitiu o técnico durante as jornadas sobre ambiente e desenvolvimento, promovidas pela associação Oikos, que debateram os desafios para o futuro da bacia hidrográfica do rio Lis.
À margem do encontro, Henrique Damásio explicou ao JORNAL DE LEIRIA que as obras de modernização do regadio contemplam “a substituição de tubagem em betão por condutas e hidrantes em pressão”, o que irá provocar “uma mudança nos métodos de rega”. Passar-se-á de “um sistema de distribuição de água por gravidade, sem controlo dos volumes consumidos, para rega por pressão, com controlo dos gastos, adaptando os volumes às necessidades de cada cultura”. As obras contemplarão também a execução de rede que permitirá “utilizar para fins agrícolas a água proveniente da ETAR Norte, que agora é lançada no rio”.
A par das questões relacionadas com o perímetro hidroagrícola do Vale do Lis, as jornadas debateram outros problemas desta bacia hidrográfica, como os impactos da impermeabilização e da ocupação “desordenada” do solo nos aquíferos. “Esta é uma das regiões do País mais ricas em água”, enfatizou Luís Ribeiro, investigador do Instituto Superior Técnico, alegando que, tal como acontece a nível nacional, o principal problema “não é a quantidade, mas a falta de gestão e de planeamento que pode afectar a qualidade”.
“As decisões a nível do território, como a desflorestação, a urbanização e a canalização dos rios, afectam os ciclos da água”, disse Luís Ribeiro, advertindo ainda para as consequências da actividade pecuária nos aquíferos. Isto numa região que assegura cerca de 20% da produção nacional de suínos e que espera há décadas pela construção de uma estação de tratamento de efluentes suinícolas.
Na sua intervenção, David Neves, presidente da empresa Recilis, defendeu que o futuro passará pela deslocalização das engodas para zonas com maior capacidade para a valorização agrícola dos efluentes, opção a complementar com uma unidade de tratamento específica e o aproveitamento da capacidade instalada na ETAR Norte.
Por seu lado, o presidente da Oikos chamou a atenção para os “disparates” que se têm registado com a limpeza das margens dos rios Lis e Lena, com recurso a maquinaria pesada, “abrindo caminho à instalação de espécies invasoras” e à diminuição de diversidade ecológica.
Candidatura
Intervenção na ribeira dos Milagres
O Município de Leiria anunciou, na semana passada, a apresentação de uma candidatura ao Fundo Ambiental com vista à requalificação da ribeira dos Milagres, no valor de 185 mil euros. Segundo a Autarquia, estão previstos trabalhos de limpeza e desobstrução das linhas de água, “com remoção de infestantes e execução de troços demonstrativos da aplicação de estruturas e técnicas para a protecção e reabilitação de margens”. O anúncio foi feito pelo presidente da Câmara, na sessão de abertura das jornadas sobre ambiente e desenvolvimento da Oikos, onde Gonçalo Lopes salientou a “resiliência” da Oikos, que insiste há largos anos no debate das questões ambientais. “Foi um trabalho de formiguinha até ao ponto em que nos encontramos. Julgo que, hoje em dia, e tenho sentido essa pressão, a opinião pública exige que a defesa do ambiente seja colocada no topo das prioridades dos decisores políticos”, disse, citado na nota de imprensa, destacando o empenho do Município de Leiria na resolução dos problemas ambientais do concelho.