Há um chef com raízes familiares na região na lista dos melhores novos restaurantes dos Estados Unidos da América (EUA), publicada anualmente pela revista Esquire. A liderar a cozinha do Foxface Natural, em Manhattan (Nova Iorque), David Santos alcançou, em 2023, um lugar na cobiçada lista, um feito que premeia a sua carreira na cozinha, onde procura “representar” as raízes portuguesas, que diz “nunca esquecer”.
David Santos é filho de emigrantes oriundos de Porto Carro, localidade da freguesia de Maceira, Leiria, e de Casais Garridos, em Porto de Mós, que se fixaram na comunidade portuguesa de Perth Amboy, em New Jersey, onde viria a nascer o futuro chef, que na infância e na adolescência ainda acalentou o sonho de fazer carreira no desporto.
“Em criança só era bom em duas coisas: na culinária e no basebol, mas sou muito baixo para me tornar um jogador profissional. Então, o natural foi fazer a outra coisa que amava: cozinhar”, recorda David Santos ao JORNAL DE LEIRIA, contando que houve sempre uma ligação da família à comida e à alimentação.
“Ter pais pobres, que procuravam ser auto-suficientes, teve impacto sobre mim. Criávamos coelhos e pombos para vender, tínhamos uma horta enorme cheia de árvores de fruto e vegetais e passávamos os verões na praia a pescar”, relata o cozinheiro, que inclui nessas recordações as férias passadas na terra dos pais e na Nazaré.
Desses tempos, recorda-se de ajudar a tia a cozer o pão no forno a lenha e das lembranças “incríveis” da Nazaré, nomeadamente, “do marisco, do peixe a secar na praia, os trajes tradicionais dos homens e das mulheres, do ascensor a subir e a descer, da água gelada, da comida de rua, e muito mais”.
Afastada a hipótese de se profissio- da água gelada nalizar no basebol, David Santos voltou-se para as artes culinárias e formou-se na Johnson & Wales University. Após concluir o curso, viajou pela Europa e América do Sul, absorvendo a herança culinária dos países visitados, antes de regressar aos EUA, onde viria a trabalhar em conceituados restaurantes como o Bouley e Per Se, em Nova Iorque, e no Nicholas e The Ryland Inn, em New Jersey.
Resolveu depois apostar na cozinha portuguesa, com o projecto “Um segredo”, que incluia a organização de jantares em sua casa, e, em 2012, com a abertura do seu primeiro restaurante, o Louro.
No ano passado, foi desafiado pelos proprietários do Foxface Natural para assumir a cozinha do restaurante, inaugurado na última Primavera e que se tem revelado um sucesso, merecendo já uma crónica no The New Iorque Times e, mais recentemente, a inclusão na lista dos “The Best New Restaurants in America” (“Os Melhores Novos Restaurantes da América”), que a conceituada revista Esquire publica anualmente
“Estar na lista é incrível. Todos os anos abrem tantos restaurantes na América. Ser considerado um dos melhores é uma honra, para mim e para a equipa. Sem eles, não seria possível”, reconhece David Santos, que encara com carinho o orgulho que os pais sentem pelo percurso que tem feito. “Acho que eles não queriam que trabalhasse tanto, mas sei que estão muito orgulhosos pelo que tenho conseguido e por eu levar a cozinha portuguesa ao mundo através do meu trabalho”.