O continente asiático já estava na lista de visitas gastronómicas que Telmo Gongó sonhava fazer quando, em 2014, foi desafiado a liderar a equipa do Tromba Rija que iria abrir na famosa Torre Macau. Não hesitou e rumou à Ásia.
Depois de ter passado pelo restaurante do Parisian Hotel Macau e pelo Chiado, de Henrique Sá Pessoa, o chef de Leiria está agora de volta ao Tromba Rija Macau, com um objectivo: que o restaurante, “com muita história em Portugal, continue a fazer história” do outro lado do mundo.
Neste seu regresso ao Tromba Rija Macau, Telmo Gongó quer manter a matriz identitária do espaço, para que continue a ser um “embaixador” da cozinha nacional, mas tenciona fazer incursões pela gastronomia asiática, com a introdução de alguns pratos de cozinha macaense, sobremesas e entradas.
Com essa estratégia, pretende oferecer “um docinho à boca dos locais, que gostam que se entre na sua cultura”, sem, contudo, desvirtuar o ADN do Tromba Rija como restaurante português, onde “99,9%” dos produtos utilizados são de origem nacional, do azeite às azeitonas, passando pelo queijo, pelo bacalhau ou pelo vinho.
O bichinho de Telmo Gongó pela cozinha foi-lhe transmitido pela avó, que lhe passou os primeiros ensinamentos.[LER_MAIS] “Cresci com ela, que estava sempre em casa e de volta do fogão. Era ela que cozinhava para mim e que me explicou como fazer arroz e massa”, conta o chef, de 39 anos.
Apesar do gosto pela gastronomia, este não foi o seu primeiro amor, em termos profissionais. No início da adolescência, quis ser professor de educação física e até sonhava seguir uma carreira desportista, nomeadamente ligada ao andebol, modalidade que praticava no Atlético Clube da Sismaria, a formação de Leiria que chegou a militar na primeira divisão nacional.
Telmo Gongó acabou, no entanto, por dar um rumo muito diferente à sua vida, ao ingressar no curso de cozinha da Escola Profissional de Leiria, com o “mestre” Alberto Vaz. “Foi amor à primeira vista”, confessa, admitindo que a perda da avó, quando tinha 17 anos, acabou por ter também alguma influência na decisão que tomou. “A cozinha era um dos elos que nos ligava. Consciente ou inconscientemente, a sua morte acabou por me chamar para este caminho.”
Terminado o curso, estagiou no Penha Longa, em Sintra. Acabaria por regressar a Leiria, passando por vários espaços, como o Pipo Velho, Martin & Thomas, Taberna Ibérica, Mata Bicho e Vinho em Qualquer Circunstância.
“Terra santa para viver”
Em 2014, por intermédio do chef Alberto Vaz, foi desafiado a dirigir a cozinha do Tromba Roja Macau. A resposta “não podia ser outra”. Fez as malas e rumou à Ásia, sozinho e sem conhecer ninguém naquele território. A adaptação reconhece, revelou-se “difícil”, sobretudo, pela barreira da língua.
“Não sabia nada de mandarim e nas movimentações do dia-a-dia, seja nos transportes ou nos locais de compras, quase ninguém fala inglês. Nas repartições públicas ainda encontramos quem saiba português”, conta Telmo Gongó.
Ultrapassadas as dificuldades iniciais, Macau revelou-se para o chef de Leiria “uma terra santa para viver”. É, diz, um território “super seguro, livre de impostos e com muitos apoios governamentais”, como tem acontecido durante a pandemia.
Além das condições de vida, destaca também a cultura e património macaenses e a ligação a Portugal, “muito presente” no território.
Há cinco anos sem se deslocar a Leiria, Telmo Gongó vai matando as saudades com as visitas que a mãe e os os amigos lhe vão fazendo. Já com uma filha e a segunda a caminho, não pensa regressar ao País no curto prazo. “A nossa terra é onde nos sentimos bem e por agora, sinto-me muito bem em Macau”, afirma