Digitamos o número com o prefixo 33. O telefone toca três vezes. Em vez do 'está', do 'estou' ou do 'sim', o nosso interlocutor inicia a conversa com um 'allo, bonjour'.
O nosso 'boa tarde' faz com que o senhor Diamantino recue mais de meio século para trás, aos tempos em que vivia no Alqueidão, um pequeno lugar da freguesia da Boa Vista, concelho de Leiria.
Estamos a ligar para o Centro Nacional de Futebol de França, em Clairefontaine, que por estes dias serve de quartel-general da selecção francesa e onde Didier Deschamps prepara com os 23 convocados as últimas tácticas para o jogo de abertura de mais um Europeu de futebol, com a Roménia, que se realiza esta sexta-feira.
Diamantino Faria, 70 anos completados em Março, emigrou a salto para França em 1964 para “fugir à guerra” do Ultramar. Apesar de cinco décadas longe de Portugal, apenas com a visita anual da praxe, o português sai-lhe escorreito, apenas com a interjeição 'et voilà' a concluir praticamente todas as frases.
“Jornal de Leiria? Sabe que é a minha terra?” Sabemos, pois. Foi precisamente por isso que resolvemos contactá-lo e saber um pouco mais do dia-a-dia do roupeiro dos bleus.
“Olhe, é uma história muito longa! Era pedreiro e pintor e o meu patrão tinha uma propriedade muito grande, de 56 hectares. Em 1984, a Federação Francesa de Futebol (FFF) comprou o terreno para lá construir o centro de treinos e perguntaram quem não se importava de ir trabalhar para lá. Acabei por ser negociado com a propriedade”, brinca Diamantino, conhecido no meio do futebol francês por Manu. “O meu pai chamava-se Manuel, primeiro fui Manu petit, depois fiquei apenas Manu”, explicou.
Diamantino começou por ser “gardien da propriedade”, enquanto o Centro Nacional de Futebol não foi concluído, o que aconteceu em Janeiro de 1988.
“Trocaram então o armazém das selecções de Paris para Clairefontaine. O rapaz que tratava da roupa passou para a secção de vídeo e eu fiquei como roupeiro. Fiquei todo contente, mas foi um bocado difícil. Sabia assentar tijolo, mas não percebia nada de roupa.”
Talvez por isso, a pessoa com quem dividiu a função de tratar dos uniformes durante muitos anos foi… a esposa, Clarice, também da Boa Vista, e que se reformou em 2013. “Ela lavava e eu dava o equipamento para eles sujarem…”
Leia mais na edição impressa ou torne-se assinante para aceder à versão digital integral deste artigo.