Os Prémios Pfizer, os mais antigos da investigação biomédica em Portugal, distinguiram, na edição deste ano, o trabalho realizado pela equipa internacional onde estão os investigadores António Mendes, natural de Leiria, e Miguel Prudêncio, no Instituto de Medicina Molecular (IMM), na pesquisa de uma vacina contra a malária.
A entrega dos prémios foi feita ontem. Ao todo, foram premiados três projectos, além do do IMM, a investigação básica, um coordenado por Henrique Veiga-Fernandes, do Centro Champalimaud sobre o papel do cérebro na saúde intestinal, e outro por Julie Ribot, também do IMM, acerca do papel das células imunitárias na memória a curto prazo.
A pesquisa sobre a malária valeu à equipa um prémio de 25 mil euros e às restantes 12500 euros, cada.
“Foi um momento maravilhoso receber este prémio, que é o mais antigo de Portugal na ciência”, diz António Mendes.
A investigação que está a desenvolver é muito mais do que uma vacina, explica. O cientista adianta que todo o “mecanismo” desenvolvido no IMM é um “novo método de vacinação, uma verdadeira plataforma inovadora e segura”, sem efeitos adversos.
É possível adicionar-lhe outros elementos para aumentar a eficácia da vacina, por exemplo, aumentar a protecção para englobar outras espécies diferentes de parasita da malária, já que, presentemente, a equipa está a trabalhar apenas com o mais mortífero, endémico em África.
Criados em 1956, estes galardões distinguem os trabalhos de investigação básica e clínica feitos total ou parcialmente em instituições portuguesas por cientistas portugueses ou estrangeiros.
Mas também poderiam juntar o da América do Sul, ou até melhorar a protecção em vários “estadios de desenvolvimento” do Plasmodium, organismo que provoca a malária.
“Os primeiros ensaios clínicos em 24 seres humanos demonstraram um decréscimo de 95% da infecção hepática pelo parasita da malária humana. Por comparação, a vacina que está, neste momento, a ser distribuída fornece 33% de protecção”, explica António Mendes.
A equipa procura agora financiamento para novas e melhoradas versões da vacina e para testes com dosagens mais elevadas, que provoquem 100% de decréscimo. “A nossa ideia funciona e tem um enorme potencial imunológico”, resume.
O que é que o cérebro e trabalho por turnos têm que ver com infecções intestinais?
Já a equipa liderada pelo imunologista Henrique Veiga-Fernandes, do Centro Champalimaud, concluiu que as pessoas que trabalham à noite ou que mudam frequentemente de fuso horário têm maior probabilidade de desenvolverem inflamações intestinais.
Isto porque há células do sistema imunitário que contribuem para a saúde intestinal que deixam de receber informações vitais do cérebro.
Essas células são as células linfóides inatas de tipo 3 (ILC3), que no intestino lutam por exemplo contra as infecções e são muito sensíveis às perturbações dos seus “genes relógio” (que indicam a hora do dia às células).
Se estas células estiverem desreguladas, aumentando as infecções intestinais.
Por fim, Julie Ribot descobriu que as células T gama delta – um subgrupo de células imunitárias que produz uma molécula, a IL-17, e reside nas meninges cerebrais – controlam a memória de curto prazo.