Bruno Gaspar, o organizador do cinANTROP, palmilhou a China, Japão e Filipinas com uma mochila às costas cheia de filmes em Português, para dar a conhecer os povos que, em todo o mundo, usam a língua de Camões.
Leiria, Marinha Grande e Ourém recebem, de 3 a 11 de Junho, a quinta edição do cinANTROP – Festival Internacional de Cinema Etnográfico. A mostra documental e de ficção de cariz etnográfico nasceu do sonho de um jovem, natural do concelho da Batalha, de criar um evento que homenageasse convenientemente a vida e obra de um dos maiores e mais desconhecidos cineastas nacionais do século XX.
A ideia começou a germinar no cérebro de Bruno Gaspar no dia em que ainda sem ter completado 18 anos, foi a uma sessão no Teatro José Lúcio da Silva para ver toda a filmografia de António Campos, autor de vários filmes de teor sociológico e etnográfico, de Leiria.
“Na sala, estavam três pessoas a assistir. Pareceu-me óbvio que tinha de criar um festival de cinema e um prémio com o nome dele”, conta o agora menos jovem Bruno Gaspar, a poucos dias do início do cinANTROP, que nasceu em 2013.
No ano passado, o certame mudou-se de “armas e bagagens” para o sudeste asiático. Como o organizador não reuniu as condições necessárias para a execução do evento em terras lusas, levou-o em digressão pelas Filipinas, Macau e China.
“Deparei-me, em Portugal, com poucas respostas e muitas demoras.” Este ano, o cinANTROP não só volta a Portugal e à Alta Estremadura mas também se mostrará em seis cidades na China. “Os Governos de Macau e da China foram fantásticos”, diz Bruno Gaspar, actualmente a viver no Oriente.
Nesta edição,que tem o “Império do Meio” como tema, a secção competitiva conta com poucos filmes, situação que o organizador justifica com o facto de, em Portugal, a produção cinematográfica documental e etnográfica – e a outra também – serem em “muito pouca quantidade”.
Poucos filmes se candidataram ao Prémio António Campos: Terra e Cal, de Catarina Alves Costa, Terras de quem sou, de Flávio Ferreira e Índios Potiguara, de José Manuel Simões, são alguns dos títulos.
“No Brasil, a produção é, incomparavelmente, maior. Precisávamos de mais apoios à produção e que, nas escolas, se falasse da questão da identidade e tradições, para que estas não se perdessem na espuma destes ‘dias modernos’”, lamenta o organizador.
Influenciado pelas suas viagens pelo Oriente, Bruno Gaspar traz, nesta edição, a China a Portugal pela mão de vários realizadores orientais com quem conviveu no últimos ano. Mas haverá também conversas com realizadores estrangeiros, como é caso do brasileiro Dewey Caldas, que é o convidado especial de uma sessão em Ourém.
Simultaneamente com a Alta Estremadura, o festival decorre em Nagóia, Japão, onde serão projectados filmes em língua portuguesa.
“Apesar das dificuldades inerentes à produção, como acontece na maioria dos projectos culturais em Portugal, vamos continuar. Não importa onde. Ao longo destes anos, estreámos documentários que, posteriormente, ‘deram cartas’ noutros festivais de cinema. Motivamos realizadores mais focados na ficção, a observarem o que os rodeia, com lentes de interesse documental e antropológico e deixámos a nossa mensagem em muitas escolas da Alta Estremadura”, afirma.
Chineses vêem filmes em Português, no consulado espanhol
Embora haja grande receptividade da parte das autoridades de países como China, Japão, Taiwan ou Filipinas em acolher o festival etnográfico e os documentários de realizadores portugueses, legendados em Mandarim, no caso da China, com o objectivo de aproximar o mundo lusófono ao país mais populoso do mundo, a verdade é que, por vezes, acontecem episódios inusitados.
Foi o que se passou quando Bruno Gaspar decidiu levar o certame a Xangai. “O Consulado Português não tinha um espaço onde pudéssemos passar as películas…”, recorda. Mas Bruno Gaspar não é de baixar os braços e rumou à alternativa que lhe parecia mais acessível.
Foi bater à porta do cônsul espanhol, que, após a surpresa inicial de ter à sua frente um português a solicitar uma sala para passar filmes em Português, decidiu abrir- -lhe a Biblioteca Cervantes.
Foi lá que passou os filmes Doces regionais do Reguengo do Fètal, criação do rancho daquela freguesia da Batalha, e Otorrinolaringologista, de André Pereira, vencedores do Grande Prémio António Campos em 2014 e 2015, respectivamente, e ainda Manuel, do cineasta de Leiria, Bruno Carnide, vencedor do São Tomé Film Fest.
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