Escreveu uma tese de mestrado sobre cinema de terror português e trabalhou (criando adereços de cena) em filmes como Grand Tour, de Miguel Gomes (prémio de melhor realização do festival de Cannes em 2024) e O Ano da Morte de Ricardo Reis, de João Botelho.
Desde pequena que por engano lhe trocam o nome (Cinara) e daí vem o heterónimo: Saiónára. Tem duas gatas pretas “que adoram azeitonas verdes”, vivia em Lisboa, mas deixou a cidade depois do nascimento do único filho e agora moram todos “onde tocam os sinos”: Alcobaça.
Não falta humor nem substância no currículo da ilustradora que em 2023 venceu o Prémio Matilde Rosa Araújo, através do qual se prepara para publicar um novo livro, A Minha Pessoa Preferida, escrito por Kiara Terra, acerca da relação à distância de Portugal para o Brasil entre uma criança e a sua avó, separadas pelo oceano.
Recentemente, em Outubro, o livro Quem Está?, em que assina as ilustrações, foi um dos três livros portugueses seleccionados no catálogo The White Ravens 2024, selo atribuído pela International Youth Library, de Munique, na Alemanha, especializada em literatura para o público infanto-juvenil – “uma distinção com muito prestígio” de “uma organização respeitada dentro do meio”, assinala Cinara Paralta Pisco.
No ano passado, o trabalho da ilustradora licenciada em jornalismo – que, na verdade, não pretende “escrever seja o que for, além de e-mails e listas de compras do supermercado” – já tinha entrado na selecção oficial da Bienal de Ilustração de Guimarães e (como única representante portuguesa) no catálogo da Iberoamérica Ilustra, organizado pela feira de Guadalajara, no México.
Ainda em 2023, Cinara Pisco expôs em Génova (Itália) e Braga, ambas exposições colectivas. Já em Abril, ocupou a biblioteca municipal de Estarreja com a exposição individual Quem Está Aí? A ilustração surge “quase como um escape”, mas cada vez mais sério. “Tem-me feito pensar muito sobre qual é que é o meu contributo, o que é que eu tenho a dizer e porque é que é relevante”.
Além da ilustração para livros – Quem Está? e Visto Visto são recomendados no Plano Nacional de Leitura – há o cinema, a publicidade e a televisão, inserida em equipas de direcção de arte de produções nacionais e internacionais distribuídas por plataformas como a Netflix, a Amazon Prime e a RTP. “Gosto de ter a possibilidade de fazer as duas coisas e o ritmo é muito diferente. Quando estamos a fazer um livro temos mais tempo para pensar, o cinema é mais imediato”.
Contam-se já três dezenas de filmes e séries, numa lista em que sobressaem, recentemente, O Teu Rosto Será o Último, Marco Paulo, Três Mulheres – Pós Revolução, Glória ou Bem Bom. “Sou uma roda na engrenagem”, diz Cinara Pisco ao JORNAL DE LEIRIA, referindo-se à criação de adereços de cena (objectos e elementos de decoração) que ajudam a dar vida à narrativa.
“Acho sempre mais interessante trabalhar outros períodos de tempo que não o nosso”. Aprender “coisas novas”, descobrir “novas estéticas”. Por exemplo, através de jornais de época. “É um adereço que dá muito trabalho a fazer mas que acabo por gostar. Acho muito piada a ler notícias de outros tempos, como se escrevia opinião antigamente, ver como algumas coisas se foram mantendo e o que mudou”.
É, precisamente, o que sucede em As Meninas Exemplares, de João Botelho, que deverá estrear em 2025 no grande ecrã e se inspira no romance russo do século XIX, da condessa de Ségur.