Há o objectivo de abrir o Mosteiro de Alcobaça, gradualmente, à comunidade. Mas, por enquanto, apenas um terço está incluído no circuito de visita. Todos os anos, os concertos do Cistermúsica revelam espaços não acessíveis ao público. Em 2024, cumpre-se a tradição e surge a oportunidade de descobrir a Capela do Desterro, “uma pérola” do século XVIII, “obra-prima do barroco português”, que, segundo Ana Pagará, directora do monumento património da Humanidade classificado pela Unesco, se encontra num estado “impecável do ponto de vista da conservação”. É lá que David Silva e Júlio Guerreiro vão protagonizar um recital de flauta e guitarra com obras de Lopes-Graça e Piazzolla, num espectáculo de lotação reduzida, dia 13 de Julho, pelas 15:30 horas, que se prevê “muito especial”.
O programa do 32.º Cistermúsica – Festival de Música de Alcobaça que decorre entre 28 de Junho e 3 de Agosto contempla 17 apresentações em zonas do Mosteiro de Alcobaça como a cerca, a nave central, a sacristia, o Claustro do Rachadouro, o celeiro, o Claustro D. Dinis, o refeitório ou o salão da biblioteca.
“Todos os anos tentamos encontrar um espaço novo para o festival e sobretudo novo para o público”, diz Rui Morais, presidente da Associação Banda de Alcobaça, que organiza o Cistermúsica. “Há vários anos que partilhávamos o desejo de fazer uma coisa mais intimista na Capela do Desterro”.
O maior cartaz
É a Banda de Alcobaça que “mais desafia” a equipa gestora do Mosteiro de Alcobaça para “momentos únicos”, reconheceu Ana Pagará, durante a conferência de imprensa de lançamento do 32.º Cistermúsica. No futuro, existem planos não só para incluir a Capela do Desterro no circuito de visita como para realizar obras na parte superior da cerca (onde o Cistermúsica já coloca, anualmente, concertos de grande escala) que vão permitir acolher plateias até 700 pessoas. Através do Cistermúsica, realça Ana Pagará, o Mosteiro de Alcobaça “cada vez mais se assume um lugar para a construção da paz” e “um lugar para a celebração da diversidade cultural”.
Em 2024, a Banda de Alcobaça volta a anunciar “o maior festival de música clássica” realizado em Portugal. “Nem em Lisboa ou Porto se faz um festival com esta dimensão”, assegura Rui Morais. “E mesmo à escala europeia não conheço um festival com esta dimensão dentro de património da Humanidade”.
Participam “quase mil músicos” e, dos 47 espectáculos em agenda, 22 são de entrada livre. “Este é o grande festival das orquestras”, reforça Rui Morais. “Não há nenhum festival em Portugal que se assemelhe sequer à programação de grandes concertos sinfónicos”. Este ano, com a Orquestra Metropolitana de Lisboa, a Orquestra Filarmónica Portuguesa, a Banda Sinfónica da PSP, a Orquestra XXI, a Banda Sinfónica de Alcobaça, a Alto Minho Youth Orchestra e, logo no concerto de abertura, esta sexta-feira, a Orquestra Melleo Harmonia.
A organização espera repetir ou mesmo ultrapassar o número de espectadores da edição anterior: 10 mil. As receitas de bilheteira também têm aumentado e valem 6 a 7 por cento do orçamento de meio milhão de euros, constituído, em 62%, por fundos públicos.
Fora de Portugal, um festival como o Cistermúsica “custaria sempre no mínimo três milhões de euros”, garante Rui Morais, que ambiciona, ao longo dos próximos anos, aumentar o investimento, pelo menos, para o dobro, ou seja, atingir um milhão de euros. A parceria estratégica com a Câmara de Alcobaça – com o presidente do município, Hermínio Rodrigues, a reconhecer que o Cistermúsica “vende bem o território” – casa-se com apoios de outras autarquias, da Direcção-Geral das Artes, da Fundação La Caixa, do BPI, do Grupo Volkswagen e da Visabeira.
Jazz e Adriana Calcanhoto
Com um total de 27 palcos, o 32.º Cistermúsica vai acontecer em seis freguesias do concelho de Alcobaça e também noutros concelhos, como Leiria, Coimbra e Arouca. Assinala os 100 anos do nascimento de Joly Braga Santos, os 150 anos do nascimento de Gustav Holst e de Arnold Schoenberg, os 200 anos do nascimento de Anton Bruckner e os 100 anos da morte de Giacomo Puccini e de Gabriel Fauré.
Sob o mote “Intemporal”, a edição de 2024 destaca, por outro lado, a música no feminino e a temática da “Liberdade” associada aos 50 anos do 25 de Abril. Tudo, segundo Rui Morais, com “excelentes músicos nacionais” e algumas “notas de referência superlativa internacional”.
Uma programação “o mais diversa possível”, nota o presidente da ABA, em que estão jovens valores e músicos consagrados, novas criações e obras intemporais, recitais, orquestras e ensembles, música e dança.
Até ao início de Agosto, nem só de música clássica se faz o Cistermúsica, que se desdobra nos programas Júnior e Famílias, Jazz no Bosque e Outros Mundos, em que sobressai o concerto de Adriana Calcanhoto.