Nenhum dos clubes que na época transacta disputaram a Divisão de Honra distrital de futsal (masculinos) aceitou jogar no Campeonato Nacional da 2.ª Divisão.
Na origem dessa recusa está, na maioria das situações, o custo associado à subida de escalão, que, em muitos casos, implicaria que os clubes duplicassem ou triplicassem os orçamentos.
O Concha Azul, clube de São Martinho do Porto que se sagrou campeão distrital na época transacta, foi ainda mais longe e suspendeu a actividade desportiva, o mesmo acontecendo com a Associação Desportiva e Recreativa da Mata, que na última temporada jogou na 2.ª Divisão nacional (ver caixa).
Assim sendo, e com a descida do Núcleo Sportinguista de Pombal, o número de representantes do distrito nos nacionais desce de sete para cinco: Amarense, Olho Marinho, Mendiga e Casal Velho, na 2.ª Divisão, e Burinhosa, na 1.ª Divisão.
“Os custos [da 2.ª Divisão nacional] são incomportáveis, com as taxas de jogo e multas por tudo e por nada”, diz António Moreno, presidente da comissão administrativa do Concha Azul que nos últimos meses tem estado à frente do clube.
O dirigente alega ainda que, face “ao vazio directivo, não havia condições” para o clube assumir o lugar que lhe cabia por direito na 2.ª Divisão nacional devido aos custos que tal implicaria.
Foi também por razões financeiras que o Arnal, segundo classificado da Divisão de Honra distrital, declinou o convite para preencher o lugar deixado vago no escalão superior pela desistência do Concha Azul. Luís Rodrigues, presidente da Direcção da Associação Cultural Recreativa do Arnal, assume que os custos foram “a única razão” para o clube recusar a subida.
“Temos um orçamento de 20 mil euros por ano. Para estarmos nos nacionais precisaríamos de 50 mil”, revela o dirigente, frisando que a subida de divisão implicaria um aumento “abismal” de custos.
A título de exemplo, refere que na Divisão de Honra “não há gastos com policiamento, enquanto nos nacionais isso é obrigatário”. Também nas taxas de jogo e nas inscrições de jogadores “as diferenças são enormes”.
De acordo com o regulamento do campeonato nacional da 2.ª Divisão de futsal (masculinos), por cada jogo em casa, os clubes têm de pagar à Federação Portuguesa de Futebol uma quota de arbitragem (ou taxa de jogo) de 250 euros.
Na Divisão de Honra distrital o valor cobrado pela Associação de Futebol de Leiria (AFL) é de 95 euros. Nesta época, o custo de inscrição de jogadores amadores na 2.ª Divisão nacional varia entre 23,75 e os 47,50 euros (quer se trate de um jogador formado ou não localmente), enquanto nos campeonatos distritais esses valores são de 15 e 30 euros.
[LER_MAIS] O presidente do Arnal sublinha ainda que nos nacionais “há penalizações monetárias” em caso de cartão vermelho e que a subida de escalão implicaria custos acrescidos com deslocações. “Nunca o disse aos atletas, mas, olhando para as implicações da subida no nosso orçamento, foi uma sorte não termos ficado em primeiro lugar, onde andámos até três jogos do fim do campeonato”, confidencia Luís Rodrigues.
Segundo conta, a Direcção desportiva ficou “um pouco triste” pelo facto de o clube não aceitar jogar no campeonato nacional, “mas compreendeu a situação, assim como os jogadores, que se mantiveram apesar dos convites que receberam”.
Também os presidentes da Quinta do Sobrado (Batalha) e do Gaeirense (Óbidos) apontam a “diferença de custos” entre os campeonatos distrital e nacional como a razão para se manterem na Divisão de Honra de Leiria.
“Não estávamos preparados para essa subida. Preferimos ficar nos distritais e continuar a praticar desporto do que ir aos nacionais e depois ter de fechar portas”, alega Rui Almeida, presidente do Gaeirense.
O dirigente considera ainda que “não tinha lógica” o clube jogar na 2.ª Divisão nacional depois de ter sido apenas sexto classificado na Divisão de Honra distrital e de ter preparado a equipa para disputar este escalão. Admite, no entanto, que ir aos nacionais “é uma ambição, mas que não pode ser a todo o custo”.
Entre os dirigentes contactados pelo JORNAL DE LEIRIA, Adelino Bicho, presidente da Academia da Caranguejeira, é o único que assume que “não foi por questões financeiras” que o clube não aceitou subir de divisão. “Deram-nos três ou quatro dias para decidir. Não era suficiente para reunirmos as condições necessárias, até porque havia jogadores que já tinham assumido compromissos com clubes que vão disputar os nacionais.”
Segundo Manuel Nunes, presidente da AFL, o que se passou na região, com a recusa dos clubes em subir de escalão “não é caso único no País, tendo acontecido noutros distritos”. “As exigências começam a ser muitas e as responsabilidades são enormes e os clubes preferem não arriscar e fazem bem”, defende.