Não são todas iguais e qualquer apreciador o sabe. Esta ginja, no entanto, é mais famosa do que a maioria da concorrência. Não é indiferente o cenário em que é servida, em pequenas canecas de vidro, sobre balcão de madeira, como mandam as regras. O negócio remonta a 1912.
Num documentário de Pedro Alves, que venceu o Grande Prémio António Gonçalves Alta Estremadura, do cinANTROP – Festival Internacional de Cinema Documental e Etnográfico, conta-se que o fundador, Joaquim da Emília, comprou o primeiro rádio na vila medieval de Ourém. Ali se escutavam os relatos ao domingo, em meados do século, quando o futebol era desporto imaginado e os craques de Sporting e Benfica pareciam tão distantes como as estrelas de Hollywood.
É do neto, Augusto Gonçalves, no início dos anos 90, a iniciativa de transformar a mercearia, onde em tempos se vendia tudo, desde pregos a sabão, tecidos ou arroz, no bar e taberna típica Ginjinha d’Castelo de Ourém. Que, entretanto, se transformou numa instituição do concelho e até um Presidente da República já recebeu.
Numa das salas, o mobiliário antigo e os objectos fora de época emprestam ao espaço uma personalidade surpreendente. Tem qualquer coisa de museu e lembra visitas ao sótão dos avós.
Agora o gerente é José Manuel Reis, um ex-funcionário, que mantém a tradição da casa: brindar com os noivos que se casam na igreja do outro lado do largo.
Pela porta entram clientes de todos os dias, mas, também, turistas. Cada vez mais. “Paragem obrigatória”, num circuito que está intimamente ligado ao Santuário de Fátima, a 20 minutos de carro. Mas não só. Estamos no morro do Castelo de Ourém, um ponto de observação que justifica todos os esforços. A fortaleza, cheia de charme, é formada por três torres quadrangulares. Também vale a pena passear nas ruas, entre edifícios que misturam traços dos estilos gótico, mudéjar, manuelino, barroco e pombalino. Ou espreitar a igreja colegiada, onde se encontra o túmulo de D. Afonso, o IV Conde de Ourém.
Ginjas há muitas. E até aqui perto, em Alcobaça ou Óbidos. A fórmula da Ginjinha d’Castelo de Ourém é que continua bem escondida. “A receita é do dono da casa e tem um segredo de família”, explica o actual concessionário, José Manuel Reis, que fala de uma bebida que se distingue “pela qualidade” e “pelo paladar”, que é “mais suave”.
O projecto inaugurado por Augusto Gonçalves tinha como objectivo dar vida nova à loja ameaçada pelo avanço das grandes superfícies comerciais. O sucesso da Ginjinha d’Castelo mostra que estava certo.
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Tipicamente, a fruta chega da zona do Fundão, mas a produção do licor tem lugar no concelho de Ourém. Fabrico próprio, caseiro. Para experimentar todos os dias entre as 10 e as 24 horas (duas da manhã nos fins de semana). A marca já é comercializada em garrafa, com preços desde 3,5 euros (40 ml) até 15 euros (0,70 cl).