Embora o seu foco esteja nas crianças e nos adolescentes de famílias carenciadas, a Colónia Balnear da Cáritas Diocesana de Leiria-Fátima, na Praia do Pedrógão, acolhe miúdos de todos os contextos sociais
Os pais procuram férias “económicas, seguras e divertidas” e a resposta está numa instituição “credível”, que procura incluir ao invés de “guetizar”. As crianças, por seu lado, vivem uma experiência única, que fica para toda a vida.
Leonardo, de Fátima, tem 13 anos e já passou “cinco ou seis” Verões nesta colónia, tempo mais do que suficiente para fazer amizades duradouras. Gosta de jogar futebol, ao disco, de fazer escavações na praia e ir ao mar. E, não menos importantes, são as refeições preparadas pela D. Saudade, considera Leonardo.
Na colónia há sempre “alimentação equilibrada”, apesar de, de vez em quando, se poder saborear “um gelado ou um leite creme”, exemplifica o adolescente.
Eduardo, de 10 anos, e Laura, de 9, são irmãos. Trocam Fátima pela Praia do Pedrógão há quatro anos. Passam o ano desejosos que chegue o Verão para voltarem à colónia, explica Eduardo, que até das cenouras cozidas da D. Saudade gosta muito.
Já a irmã aprecia bastante as peças de teatro que se realizam na colónia diariamente e a possibilidade de molhar os pés todos os dias.
[LER_MAIS] Maria tem 8 anos. Já viveu em Portimão, mas agora mora em Leiria. Está nesta casa pela segunda vez. Está uma vez mais a adorar a praia e este ano tem a vantagem de já conhecer muitas crianças que também estiveram na colónia no ano passado.
“Em Portimão também ia à praia, mas não podia ir tantas vezes”, conta Maria, que diz não sentir saudades de casa e que fica particularmente satisfeita com as refeições de salsichas e esparguete servidas na Praia do Pedrógão.
De Leiria chega este ano, pela primeira vez, o Tomás, de 9 anos. A experiência “está a ser melhor do que imaginava”, com “canções, amizades novas e praia todos os dias”. Chegou à colónia por recomendação de um amigo dos pais e está a gostar tanto como quando vai de férias para o Algarve.
Quem também não falta à chamada é Inês, de 10 anos, natural de Leiria. Antes dela, já o irmão mais velho frequentava a colónia.“Peço todos os anos aos meus pais para me inscreverem”, relata a menina, que está na colónia pela terceira vez.
Em tempos chegou a chorar à noite, com saudades de casa. Mas o Nelson reconfortou-a e ficou tudo bem, lembra a Inês.
Nelson Costa é o coordenador desta colónia balnear de Leiria, que começou por ser monitor voluntário há 14 anos. A vivência nesta casa é de tal forma enriquecedora, para os adultos e para as crianças, que vários miúdos de outrora são agora jovens monitores, salienta o coordenador.
É o caso de Joana Ribeiro, de 17 anos, que frequentou esta colónia durante sete anos, e que este ano, pela primeira vez, deixa de se estender no areal para assumir a “grande responsabilidade” de ser monitora.
“O meu objectivo é que as crianças se divirtam tanto como eu me diverti”, explica Joana.
Desde 16 de Julho e até 2 de Setembro, a Colónia Balnear da Cáritas Diocesana de Leiria-Fátima volta a encher o areal da Praia do Pedrógão com 285 crianças e adolescentes e 50 monitores voluntários.
Fruto das parcerias com as câmaras municipais e dos serviços de atendimento social da Cáritas, a maioria dos miúdos provém de meios carenciados, explica Nelson Costa.
Desde 2015, através da campanha Apadrinhe umas férias felizes, as crianças carenciadas pagam valores simbólicos para usufruir do programa da colónia (5 a 10 euros), ficando o resto do montante (30 euros) assegurado pelo padrinho.
As outras crianças pagam 35 a 80 euros, em função do escalão de rendimento do agregado familiar, prossegue o coordenador.
Os pais confiam os filhos à instituição, à qual reconhecem “credibilidade”, sabendo que estes encontram nesta casa umas férias “a bom preço, ao ar livre, seguras, com boa alimentação”.
Todos os dias há uma história para contar, uma peça de teatro, peddy paper e outras actividades dinamizadas no pinhal. As solicitações são tantas, que voltaram a ficar meninos em lista de espera, nota Nelson Costa. Este ano, cerca de três dezenas, adianta o coordenador.
Na página de facebook da colónia repetem-se as manifestações de satisfação das famílias que optaram por deixar os filhos nesta instituição da Praia do Pedrógão. “'Mãe adorei estar lá', foram estas as palavras da minha filha quando a fui buscar”, partilha uma das encarregadas de educação.
“Um obrigada a todos vocês em especial à D. Saudade, pois o meu filho adora a sua comida e quer sempre voltar”, testemunha outra mãe.
Também Nelson Costa confidencia que, não raras vezes, as despedidas são de lágrimas nos olhos. Sinal de felicidade, frisa o coordenador.
Uma casa nascida na Nazaré
A história da Colónia Balnear da Cáritas Diocesana de Leiria- Fátima esteve desde sempre associada à Igreja, tendo o padre Benevenuto Santiago Morgado, de S. Simão de Litém (Pombal), dado início à constituição desta colónia, em 1976, ainda no Sítio da Nazaré, numa casa que lhe fora cedida.
Nessa altura, a colónia estava vocacionada para receber crianças da paróquia de S. Simão de Litém e ainda de paróquias vizinhas. Denominava-se, por isso, Colónia de S. Simão. Entre 1978 e 1987, já em parceria com a Cáritas de Leiria, a colónia é aberta a todas as crianças e adolescentes da diocese.
A partir do final dos anos 80, a colónia passa em definitivo a funcionar na Praia do Pedrógão, passando a denominar-se Colónia Balnear da Cáritas Diocesana de Leiria-Fátima.
Entretanto, embora tenha mantido o seu foco sobre os mais carenciados, o público desta colónia deixou de ser composto apenas por crianças e jovens desfavorecidos, para ser constituído por todas as crianças e jovens desta diocese