Augusto Arnaut, comandante dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande, aproveitou aquela que disse ser “talvez a última intervenção pública antes da leitura do acórdão sobre o processo dos incêndios de Pedrógão” para voltar a “lamentar muito as perdas daquele dia, as vidas que o fogo levou”.
“Nunca esquecerei aquele inferno. Por muito que eu viva, irá perdurar sempre comigo. Só queria acordar todos os dias de manhã e dizer que era um sonho. Mas, infelizmente, não foi”, afirmou o comandante que está a ser julgado no Tribunal de Leiria, no âmbito do incêndio de Pedrógão Grande.
Augusto Arnaut, que hoje foi agraciado com o crachá de ouro, salientou que várias testemunhas, entre as quais os “comandantes nacional e distrital da proteção civil e a ex-ministra da Administração Interna, todos disseram que não podia ter feito mais nem melhor”.
“Independentemente da decisão de 13 de Setembro, quero confiar na Justiça. Não acredito naqueles que, por alguma razão, divulgaram que a culpa não pode morrer solteira”, disse ainda na cerimónia dos 75 anos da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande.
O comandante sublinhou que o País está “novamente a atravessar um ciclo de incêndios muitos graves e devastadores, como se tem verificado. Desculpem, mas tenho de interrogar: quem será o próximo arguido”.
O presidente do Conselho Fiscal da associação, Luís Filipe, mostrou-se ainda preocupado com o valor da indemnização que os bombeiros terão de pagar – 1,8 milhões de euros – se a associação for condenada pelo Tribunal de Leiria. “Como é que com um orçamento de 500 a 600 mil euros, conseguirá suportar o que nos pode cair em cima? É um machado que nos pode cair em cima e pôr em causa a viabilidade desta instituição”, alertou.
Durante o seu discurso, Augusto Arnaut pediu ainda ao Município para encontrar “outras medidas para financiar” a Associação Humanitária.
“Com respeito a outras associações do concelho, esta não pode ser comparada a outras. Esta faz serviço público, servimos uma comunidade, onde não somos ressarcidos como deveríamos ser, nem valorizados. Senhor presidente, tem de avaliar outras medidas de financiar esta associação, porque esta é o seu braço esquerdo, porque o direito será para poder assinar outro protocolo urgente ou um cheque mais extensivo”, desafiou Augusto Arnaut.
O bombeiro lembrou ainda os “tempos difíceis” por que estão a passar. A Covid-19 e os preços dos combustíveis, apontou, contribuíram para que “as despesas sejam superiores às receitas”.
O ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, prestou “gratidão a todos os que criaram e fizeram crescer esta associação, com as bases sólidas que a fizeram perdurar no tempo e chegar até aqui” e “a todos aqueles que, ao longo destes 75 anos, têm estado ao lado da população na resposta às emergências”.
“Os bombeiros de Pedrógão, que hoje aqui homenageamos, e os bombeiros portugueses em todo o território nacional, têm estado sempre à altura, e preparados, nas várias frentes de combate pela afirmação da solidariedade e da capacidade de socorro”, sublinhou o governante.