A comissão diocesana de Leiria-Fátima para a protecção de menores, uma das 21 criadas pela Igreja no País, não recebeu qualquer denúncia nos dois anos de actividade. A informação foi avançada esta tarde, pelo novo bispo, D. José Ornelas, numa conferência de imprensa que deu para assinalar o início de funções na diocese.
“Grande parte das pessoas não quer declarar-se perante alguém que as conhece e num ambiente onde são conhecidas Tem ânsia de ser ouvido, mas não ânsia de serem manipuladas”, afirmou o bispo.
O prelado explicava, assim, o facto de os casos denunciados às comissões diocesanos serem pontuais, enquanto à comissão independente, liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strech, terem chegado no primeiro mês mais de 200 casos.
“Quisemos criar um ambiente onde a pessoa possa sentir-se à vontade e ter ocasião para, perante si própria, a instituição e a sociedade, assumir que foi vítima de uma injustiça”, acrescentou o bispo, sublinhando, no entanto, que as equipas diocesanas vão continuar a ser necessárias e a ter um papel importante na “formação, prevenção e trabalho com os responsáveis das instituições”, para “prevenir” e dar “apoio necessário”.
No encontro com os jornalistas, D. José Ornelas, que tomou posse no domingo, assegurou que as contas do Santuário de Fátima voltarão a ser divulgadas publicamente, para “clareza de todos” e num esforço da “Igreja toda” para clarificar este tipo de questões.
O novo bispo de Leiria-Fátima anunciou ainda que, dentro de poucas semanas, irá encontrar-se com o Papa em Roma para reiterar o convite para vir à Cova da Iria, no próximo ano, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude. “Dou praticamente como certo que virá. É isso que o Papa tem dito”, avançou.
Na conferência de imprensa, D. José Ornelas manifestou preocupação pela forma como algumas pessoas e organização estão a fazer o resgate de refugiados, receando que o voluntarismo possa por em causa a integração plena de quem chega.
O bispo, que é também presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, pede, por isso, às instituições da Igreja que actuem de forma articulada com as entidades oficiais e elogiou as medidas “ambiciosas” tomadas pelo Governo e pelas autarquia, ao nível, por exemplo, da legalização destas pessoas, do acesso à escola e à assistência médica.
“O apoio tem de ser organizado, com convergência e articulação de meios. O fundamental não é que vá lá e fique contente por ajudar, mas que as pessoas sejam bem acolhidas e que tenham uma estrutura sustentável”, afirmou o bispo.
O prelado referiu a preocupação das organizações internacionais, em particular com as crianças e à forma como são “acolhidas, tratadas e protegidas”, que pode ser colocada em causa se não houver articulação nas respostas.
“Não estou a dizer que haja más intenções de quem vai, mas é preciso haver coordenação”, defendeu o bispo, frisando que, face à dimensão do problema, “a resposta não pode ser individual”.