Patrícia Silva, natural de Ourém, considera-se sortuda. Após terminar, no ano passado, a licenciatura de Farmácia na Escola Superior de Saúde da Guarda, conseguiu emprego numa farmácia comunitária, após uma busca de emprego que caracteriza como “fácil”.
“Quando entrei para o mercado de trabalho, já tinha mais ou menos uma ideia do que ia ser”, afirma, citando as “expectativas” criadas por prévios estágios.
“Sei que nem sempre é assim”, adverte. “Muitas vezes demora-se algum tempo até se conseguir arranjar trabalho na nossa área.”
Patrícia relata as situações de ex-colegas de curso. Embora alguns tivessem experiências semelhantes à sua, outros “tiveram mais dificuldades”, com o lugar de residência a influenciar muitas vezes a situação.
A jovem de 23 anos trabalha com contrato temporário, caso que espelha uma quantidade cada vez maior de jovens a entrar no mercado de trabalho.
Um estudo realizado pela plataforma Brighter Future, da Fundação José Neves, revela que, em 2019, 47,1% dos empregados entre os 25 e os 34 anos tem esse tipo de contrato.
No caso dos trabalhadores com idades compreendidas entre os 15 e os 24, o número chega aos 69,1%. No espaço de uma década – 2010 a 2019 -, a contratação temporária entre as duas faixas etárias sofreu um acréscimo de 17 pontos percentuais, sendo os grupos de idades em que mais se verifica o fenómeno.
As habilitações são um dos factores que influenciam o tipo de contrato efectuado.
Na faixa etária dos 25 aos 34 anos, 51,3% e 50,1% dos graduados no ensino básico e no secundário, respectivamente, são empregados sob um contrato a termo, com o número a descer para os 38,6% no caso dos trabalhadores que completaram o ensino superior.
“Não tinha grandes expectativas”, admite Jónatas Loureiro, referindo-se à entrada no mercado de trabalho.
“Tinha perfeita noção que aquilo que aprendi [na licenciatura] ia ser útil, mas que era apenas um pouco daquilo que é realmente trabalhar na área [produção]”.
O jovem de 25 anos está a realizar um estágio profissional na Vangest, na Marinha Grande, empresa que se especializou em áreas como design, engenharia e prototipagem rápida, ao mesmo tempo que completa o mestrado em Engenharia para Fabricação Digital Directa, na Escola Superior de Tecnologia e Gestão.
“Tenho sorte de trabalhar na área, de ter tirado Engenharia Mecânica, que é uma área que tem bastante procura”, admite Jónatas Loureiro, reconhecendo que “praticamente todos os colegas” da licenciatura conseguiram emprego.
Para Francisco Constantino, a sua experiência no curso de Comunicação e Media, na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais de Leiria, ajudou-o a preparar a entrada no mercado de trabalho.
“Durante todas as avaliações mais práticas, começamo-nos a deparar, de uma forma mais directa, com a realidade do mercado de trabalho”, afirma o jovem de 23 anos, que actualmente realiza um estágio profissional na Rádio Nazaré, após terminar a licenciatura no ano passado.
“Inicialmente, idealizamos sempre que vamos terminar o curso e começamos logo a trabalhar no sítio que queremos”, afirma, advertindo que “não é bem assim”.
Referindo um “mercado de trabalho em constante desenvolvimento”, o jovem observa que “se recuarmos uns anos, reparamos que tínhamos uma maior percentagem de estudantes do ensino superior com ‘trabalho directo’ consoante as suas notas”.
Na sociedade actual, acredita Francisco Constantino, “a parte prática conta muito e o currículo é imprescindível”, com a “falta de emprego” a tornar a corrida cada vez maior.
“É verdade que varia muito de curso para curso, mas, infelizmente, observa-se cada vez mais esse flagelo.”
As recentes tendências no mercado laboral jovem não são interpretadas de forma negativa por todos.
O presidente da Associação Empresarial da Região de Leiria acredita que, no caso da faixa etária entre os 15 e os 24 anos, o aumento da contratação a termo “é compatível com o crescimento registado em Portugal das actividades do sector do turismo”.
Para António Poças, a “mudança social, de maior número de jovens que compatibilizam o estudo com uma actividade laboral”, pode ser interpretada como um “elemento revitalizador” que oferece “maior oportunidade à entrada no mercado de trabalho”.
“A contratação a termo, no quadro legal, é promotora de flexibilidade e adequação das necessidades de recursos humanos à variação do nível de actividade”, afirma o presidente da Nerlei, acreditando que, embora os números absolutos possam parecer elevados, “reflectem a rigidez da legislação laboral, que faz com que as empresas sejam mais cautelosas no assumir de responsabilidades futuras”.