O arcebispo do Luxemburgo, cardeal Jean-Claude Hollerich, destacou hoje o contributo dos migrantes para a riqueza económica e cultural dos países de acolhimento, e considerou que a fé sem espírito de serviço não passa de um sentimento.
“Caros amigos portugueses, caros emigrantes, caros refugiados, com as vossas mãos, trabalho, suor do rosto, inteligência, sacrifício das vossas famílias tendes ajudado a construir a riqueza económica e cultural dos países que por esse mundo fora vos acolhem”, afirmou Jean-Claude Hollerich, citado pela agência Lusa
O cardeal, que é também presidente da Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia (Comece), falava na missa que encerra a peregrinação internacional aniversária de 12 e 13 de Agosto ao Santuário de Fátima.
A peregrinação, considerada como a dos emigrantes, integra a peregrinação nacional do migrante e do refugiado, este ano subordinada ao tema “Rumo a um nós cada vez maior”, o título da mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, em 26 de Setembro.
O arcebispo referiu a sua experiência na arquidiocese do Luxemburgo, onde 15% dos cerca de 634.700 habitantes são portugueses, para dizer que encontra “frequentemente muitas famílias portuguesas e lusófonas”, assinalando que as comunidades portuguesas “um sinal de esperança para a Igreja” que peregrina no grão-ducado.
Agradecendo aos emigrantes e refugiados pelo “serviço ao bem comum da sociedade e da Igreja” e considerando que “a Europa hoje vive longe de Deus”, que esqueceu, o presidente da Comece pediu àqueles para que com o espírito de serviço, fé e religiosidade procurem “continuar a ajudar os países que vos acolhem para viver, a não perderem a esperança”.
Antes, o cardeal desafiou os fiéis a colocarem-se ao serviço dos outros, começando pela família.
“Apelo-vos a alargar este espírito de serviço aos vossos vizinhos, às pessoas com quem vos cruzais habitualmente, aos vossos amigos”, mas também aos doentes e idosos, continuou.
Para Jean-Claude Hollerich, “a verdade é que a fé sem espírito de serviço não passa de um sentimento e os sentimentos são passageiros”, defendendo que “a atitude de serviço pode ser posta à disposição da Igreja”.
Na celebração, que contou com dois cardeais, cinco bispos e 47 sacerdotes, os peregrinos rezaram pelas comunidades de portugueses e luso-descendentes espalhadas pelo mundo e pelas vítimas da pandemia de covid-19, e pediram aos governantes “para que evitem o nacionalismo indiferente à sorte dos mais pobres e desenvolvam políticas de hospitalidade que abram as sociedades que governam aos migrantes e refugiados”.
Padre pede atenção das paróquias para a situação dos imigrantes
Na conferência de imprensa que, esta quinta-feira, marcou o arranque da peregrinação, o padre Rui Pedro, pároco em Esch-sur-Alzette, no Luxemburgo, desafiou as paróquias portuguesas a “dar uma olhadela” aos trabalhadores estrangeiros no seu território, considerando que o que se reivindica para os emigrantes deve ser igual para os imigrantes. “Seria um desafio muito grande neste momento para as paróquias de Portugal dar uma olhadela no seu território aos trabalhadores estrangeiros que existem”, afirmou o sacerdote. O padre, que é da região Oeste (dividida entre os distritos de Leiria e Lisboa) e tem visitado algumas paróquias rurais onde há “muitos imigrantes do Nepal, do Bangladesh do Sri Lanka a trabalhar” nos campos, “na apanha da fruta e outras coisas”, considerou que “as paróquias também devem tornar-se sensíveis a esta realidade aqui em Portugal”. “Às vezes reivindicamos coisas para os nossos emigrantes e não reivindicamos o mesmo ou não cedemos o mesmo aos nossos imigrantes aqui em Portugal”, declarou.